IN MEMORIAM
PADRE MANUEL DA COSTA AMORIM
31/01/1952 – 16/10/2015
É voz comum ouvir dizer que os portugueses
não cultivam a memória, tão pouco conhecem a sua História e se esquecem muitas
vezes dos seus heróis. Se isto é verdade, para além de ser uma injustiça para
com todos aqueles que fizeram tudo por nós no passado, seria uma injustiça para
aquele que aqui se pretende homenagear.
É uma grande ameaça ao nosso futuro. Só
conhecendo bem o passado poderemos compreender o presente e viver melhor o
futuro.
Move-me pois o desejo de deixar registado
para o amanhã, singelo testemunho sobre o esforço exemplar do Padre Manuel da Costa
Amorim, que foi a realização de uma obra imensurável, que D. Manuel Linda, Ordinário Militar para Portugal,
assim expressou:
"Detentor
de um temperamento jovial, polido, afectuoso e humilde, relacionou-se com todos
com a maior simplicidade e forte espírito conciliador. Sem jamais ceder na sua
ligação à fé e à sua condição de sacerdote, nunca a sua pertença à Igreja
constituiu motivo de segregação ou de inimizade com alguém. Pastoralmente
sempre muito empenhado…”
Quando em 2009 iniciei a missão de escrever a
biografia do Capelão da Armada: Correia da Cunha, buscando preencher uma grave
lacuna e resgatar a memória de um antigo capelão que merecia ser lembrado pela
muita obra realizada na Armada Portuguesa, considerei ser necessário obter a
recomendação do Padre Manuel Costa Amorim – Capelão Chefe do Serviço de Assistência das Forças Armadas e que ele próprio fosse autor do prefácio da
obra no capítulo: o marinheiro.
Foi através de um amigo comum, o Senhor Eng.º
Eugénio Ramos (CMG), que conheci este Padre Contra Almirante e lhe entreguei
uma prova final da obra para sua apreciação.
Recordo o agradável sorriso
com que nos cumprimentou e nos levou
para o seu gabinete de trabalho. Ali, examinou o livro e fez os maiores
elogios. Disse-nos que já tinha ouvido falar muito do Capelão Correia da Cunha
e mostrou-se muito feliz em receber o livro: CORREIA DA CUNHA – MESTRE DE VIDA
(Padre-Marinheiro-Poeta).
O capelão Manuel Amorim, como referiu naquele
encontro, não tivera a grata oportunidade de conviver com o Capelão Correia da
Cunha, que teria procedido à inauguração do templo de Nossa Senhora do Mar que
nos acolhia naquela magnifica manhã. No entanto, chegaram-lhe imensos testemunhos:
«o Padre Correia da Cunha fora uma das mais fortes inteligências que passaram
pela Capelania da Armada.»
A
minha solicitação, da feitura do prefácio a este dedicado Capelão, fora
encaminhada para a quem no entender do Padre Amorim deveria ser o autor do
prefácio. A recomendação do Padre Amorim não fora bem acolhida…
Mas
uma sã amizade nasceu naquela manhã entre mim e o Padre Amorim e que viria a
perpetuar-se por um muito tempo. O Padre Manuel Costa Amorim era dotado de
muitos talentos mas o maior dom era a simpatia e a sua enorme facilidade para
fazer amizades.
Um trágico acontecimento interrompeu
bruscamente a actividade que vínhamos planeando para a divulgação da minha obra: CORREIA
DA CUNHA – MESTRE DE VIDA, nas mais relevantes instâncias da Marinha
Vítima de uma cruel enfermidade em poucos
meses deixou-nos. O Manuel Amorim partiu da mesma forma como sempre viveu,
humilde e fiel ao Senhor. Após o seu alento, adormeceu mansamente nos braços do
seu Salvador. O seu corpo não foi descansar nas profundezas do mar azul que
durante tão longos anos calcarreou ao serviço da Marinha Portuguesa. Foi repousar
nas verdejantes terras do Minho, no lugar de Belinho – Esposende donde era
natural.
Tendo-se espalhada a notícia
do seu falecimento, a Capela de Nossa
Senhora do Mar na Base Naval de Lisboa ficou literalmente cheia de pessoas de
todas as idades e condições sociais: desde os velhos de cabelos brancos até os
meninos… também não deixaram de se representar os mais altos dignitários da hierarquia militar, religiosa
e civil.
Tinha fixado residência na
Base Naval de Lisboa, onde nunca deixou de exercer uma dupla função, Capelão da
Armada e Pároco () da Comunidade Paroquial de Nossa Senhora do Mar. Como sacerdote,
procurava transmitir a mensagem evangélica
e praticar os seus ensinamentos.
O Reverendo Manuel Amorim
era um lutador e um empreendedor. Ele não somente beneficiou o templo como
organizou uma serie de acções no domínio da educação cristã para crianças,
jovens e adultos… angariando grande respeito e prestígio junto da comunidade
militar e pastoral.
Termino descortinando
um sacerdote que soube rodear-se de um
corpo de cooperadores, amigos e educadores, que sobre o seu comando foram desbravando terrenos para a sementeira…
Era um homem de oração, de fé e coragem nas causas em que se empenhava. Por este desaparecimento irreparável, pela falta que sentimos, e nos comove angustiosamente, da sua presença amável e franca, da sua palavra serena e confortante, da sua bondade que nos foi lema...
À família enlutada, à Marinha, à Arquidiocese de Braga, à Paroquia da Senhora do Mar e aos muitos amigos expresso as condolências. A todos peço uma oração por alma do saudoso e querido Padre Manuel da Costa Amorim,rogando a Deus que o acolha na sua infinita misericórdia!
Notas:
Foi o 1.º capelão a quem foi imposta a Boina de Fuzileiro e do seu pródigo múnus sacerdotal relevam-se, entre outras distinções: o facto de ser o único capelão que ostentou o distintivo de horas de Embarque, devido às horas que andou embarcado; o único capelão português nomeado capelão honorário do Santuário de Lourdes (França); o único capelão em toda a história do Serviço de Assistência Religiosa a ser graduado em Oficial General com o posto de Contra Almirante; e o único capelão condecorado com a Medalha da Defesa Nacional.
PADRE MANUEL DA COSTA AMORIM
31/01/1952 – 31/01/2016
O Padre Manuel Amorim foi um exemplo edificante. Quantos momentos, gratificantes proporcionou a milhares de pessoas, ora com a palavra confortante e estimulante, ora com a caridade que emanava daquele seu bondoso coração.
Tive o privilégio e a felicidade de conviver com ele alguns dias. Foram momentos inesquecíveis. Na sua presença sentíamos uma imensa alegria. Por muito que falemos do Padre Manuel Amorim é sempre pouco diante do que foi a sua trajectória terrena e a grandeza da sua alma.
Se fosse vivo, hoje dia 31 de Janeiro 2016, o
Padre Manuel Amorim completaria 64 anos.
Fazendo memória viva deste aniversário, o primeiro a ser comemorado no Céu, por impossibilidade do senhor D. Manuel Linda, que participará, em Viseu, na Ordenação Episcopal do Bispo Auxiliar de Braga, D. Nuno Almeida, o Capelão da igreja da Memória, Padre Carlos Catarino, celebra a Missa por alma do Padre. Amorim.
Será às 10 horas, no Domingo na Igreja da Memória.
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