segunda-feira, 7 de outubro de 2019

PE. CORREIA DA CUNHA – ACÇÃO CATÓLICA XVII










«CRIANÇA IMAGEM COLORIDA E 

SAUDOSA.»



Vestíamos a melhor roupa que tínhamos para ir à missa dominical presidida pelo Padre Correia da Cunha, na igreja de São Vicente de Fora, a mais bela e monumental igreja do bairro. Chegados a casa, depois da catequese essa roupa era cuidadosamente guardada até ao próximo domingo.



Naquele tempo o domingo (Dia do Senhor) era o oásis para culminar uma semana de trabalho escolar. A missa dominical revestia-se do maior cerimonial, celebrada no esplendoroso altar-mor sob o monumental baldaquino barroco ricamente decorado com relevos, esculturas e douramentos. 

O senhor prior fazia questão de ter junto de si sempre doze meninos do coro (simbolizavam os 12 apóstolos presentes na última ceia), todos vestidos com alvas brancas com capuz e cíngulo vermelho, simbolizando o martírio do padroeiro, o jovem diácono Vicente.

Nas manhãs de domingo uma vasta multidão de crianças e adolescentes apresentava-se na sacristia do mosteiro para tomarem parte do majestoso cortejo e ajudarem à celebração da Eucaristia. Todos alimentavam o forte desejo de se sentarem no altar-mor e serem vistos pelos paroquianos que enchiam completamente todas as naves do imenso templo. Essa era a ilusão que todos tínhamos mesmo querendo disfarçar esse imenso desejo. Consegui-lo era para cada um de nós uma enorme felicidade.

Ali sentados, em lugar de destaque, ouvíamos em atitude de silêncio os belos cânticos litúrgicos, as grandes prelecções e preces religiosas… que enchiam as almas de todas as piedosas crianças. 

Recordo que à época a catequese paroquial era frequentada por volta de quinhentas crianças de ambos os sexos. 

Todos sonhávamos em participar nessa celebração dominical, mas bem cedo me dei conta que o sacerdote dava primazia aos meninos que durante a semana ajudavam na missa diária das seis e meia. 

Durante a semana o Padre Correia da Cunha apenas podia contar com dois ou três rapazinhos para ajudar à missa. 

A missa diária era celebrada num dos altares do transepto do templo, o dedicado à Nossa Senhora da Conceição e os meninos envergavam uma opa branca coberta com uma romeira de cor azul celeste. Não havia lugar a grande cerimonial. Eu era um dos que não faltava diariamente a uma visita ao Santíssimo Sacramento. Era da praxe pedir da bênção do senhor prior, antes de participar na celebração desse acto de culto envergando a opa mariana.



O padre Correia da Cunha era um respeitador da realidade da vida em harmonia com as leis das coisas. E o mais nobre sentimento humano para ele era desejar ao seu semelhante, aquilo que desejava para si.

Bem cedo aprendi que é mais fácil sermos obedecidos, bastando apenas obedecermos, sem pensar nos nossos direitos… pois era assim; que sempre me era garantido o prémio de conforto na missa dominical. 

O próprio padre Correia da Cunha se encarregava de fazer a entrega das alvas brancas e cíngulos aos rapazes que durante a semana participavam na Eucaristia vespertina.

Não sei porque estou a escrever estas vivências de há mais de cinquenta anos. Mas lembro que foram estes acontecimentos da minha vida de criança que me vieram à memória, depois de ler atentamente este belo texto da autoria do Padre Correia da Cunha, que hoje, com muito prazer publico.

Todas as crianças nos inspiram sempre certos sonhos da nossa infância, de alguma inocência, que ao longo das nossas vidas conservamos para nos ajudarem a meditar na nossa vida espiritual.

Eu era um menino de sete ou oito anos, quando fui encontrar na comunidade paroquial de São Vicente de Fora, um padre que me amparou e se esforçou para me indicar o caminho da perfeição.

Creio que era um menino simpático e esperto e que também não deixava de fazer algumas travessuras. Mas a minha participação activa nos actos de culto e na frequência da catequese que ocorria após a celebração da missa das dez horas de cada domingo, muito me ajudaram na busca de uma vida cristã baseada na oração caritativa e sacramental.







Texto  do Padre Correia da Cunha

FIM DOS EXERCÍCIOS DE PIEDADE 

Já vimos que não passam de meios para alcançar o espirito de oração. Tratando-se de trabalhadores que tem absorvida a actividade toda pelo labor, não lhes é possível muitas vezes a piedade litúrgica…E oxalá que a todos chegasse o tempo para fazer uma visita ao Santíssimo Sacramento todos os dias à tarde. 

Por tal é necessário acabar a solução de como os operários devem praticar os exercícios de piedade a fim de adquirirem o espírito de oração que lhe é indispensável. 

EXERCÍCIOS INDISPENSÁVEIS: ORAÇÃO DA MANHÃ E MISSA DOMINICAL 

Todo o jocista precisa de fazer bem a sua oração da manhã, não propriamente com fórmulas decoradas e talvez complexas e por ele mal compreendido, mas com um movimento espontâneo de fé na presença de Deus juntamente com o oferecimento do dia com a sua actividade toda e a impetração de graças. É muito aconselhável um breve exame de previsão do que lhe pode suceder e do modo como deve reagir. 

Mais importante ainda é a Missa Dominical. 

Um jocista deve sempre participar no sacrifício; deve integrar-se no sentido do ofertório e saber que também deve levar a sua parte de oferenda trabalhos, lutas para em união com Cristo na cabeça, adquirirem todo o valor. Da Missa e Comunhão haverá novas energias para a semana que começa e para bem oferecer aquilo que Deus mandar. 

A intimidade com Jesus progressivamente irá aumentando e, assim o jocista fervoroso sentirá pelo dia adiante necessidade de exprimir a Cristo o entusiasmo de sua fé, a sua confiança o seu amor e o desejo de mais se unir a Ele. 

JACULATÓRIAS 

Os sentimentos diversos do Amor de Deus, a que nos referimos, são muitas vezes traduzidos nessas pequeninas mas penetrantes setas que dirigimos ao Céu e que se chamam: Jaculatórias.





O QUE É A MEDITAÇÃO 

Que a frequência de jaculatórias corresponda a um estado de alma que se eleva a Deus ou se concentra com a beatíssima Trindade que habita nela em estado de graça! 

A prática das jaculatórias conduz à meditação. 

Há vários modos de a fazer; mas ela deve ser sempre um colóquio filial e respeitoso do homem, com o Criador e Redentor, em que reconhecemos a nossa total dependência d’Ele. 

Podem fazer-se por vários métodos, mas a oração mental é acima de tudo uma expressão ordenada da caridade na intimidade com Deus no endireitar todas as potências, não tanto para um tema dado, como para uma pessoa: - Jesus Cristo. 

OUTROS EXERCÍCIOS PIEDOSOS: MISSA DIÁRIA 

Lembramos os exercícios de todos os cristãos: ao Sagrado Coração de Jesus, e por seu amor do salvador, à Santíssima Eucaristia e à participação diária no Sacrifício do Senhor. 

A Nossa Senhora, mãe e medianeira, não deve esquecer a devoção dos jovens, sobretudo para alcançar a pureza; São José modelo de vida de trabalho deve ter um cantinho no coração dos nossos jovens operários católicos. 

Todavia é para a Missa diária e comunhão se possível que o esforço do sacerdote deve tender. 

EDUCAÇÃO SACRAMENTAL 

Sabemos que os dons de Deus por excelência são os sacramentos – sinais corpóreos porque não somos puros espíritos… Mas quanto se não tarda em dar contas dessas expressões que traduzem o amor imenso de Deus às almas. 

Daí devemos ter empenho em completar a educação sacramental (iniciada no Catecismo chamando a atenção e exortando as vontades sobretudo para o Baptismo, Eucaristia e Penitencia, afim de os efeitos «ex opere operato» não fiquem diminuídos pelas deficientes disposições do sujeito.

















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