A NOVA JUVENTUDE
No dia 25 de Julho do ano de 1935
teve lugar na cidade de Bruxelas o I Congresso dos «Jocistas», estando
presentes cerca de cem mil membros desta organização católica. Fizeram-se
representar neste evento países como França, Canadá, Espanha, Polónia,
Inglaterra, Portugal…
Para solenizar esta magna
assembleia jocista, Portugal representou um coro falado, idealizado e escrito
pelo jovem seminarista Correia da Cunha, que irei aqui postar ao longo dos
próximos meses.
A escrita constituiu sempre uma
das grandes inclinações do jovem Correia da Cunha. Já no seminário concebia
cadernos e práticas de redacção capazes de despertar nos colegas efectivos estímulos
na arte de bem escrever.
Este coro falado – A NOVA JUVENTUDE –
escrito por si, com apenas 17 anos, para apresentação nesse grande evento da
JOC revela uma notável produção intelectual, mas de grande simplicidade e genialidade.
Como sacerdote viria a revelar-se como
um homem de grande amor à vida. Sempre viveu com um enorme afecto à leitura das
grandes obras clássicas da literatura, da filosofia e da teologia. Usava a
língua portuguesa de forma exemplar, como era próprio da sua competência
linguística, comunicativa, discursiva e textual. Foi um notável poeta,
teatrólogo, cronista e exímio tradutor dos rituais da liturgia em latim para a
língua de Camões, segundo os preceitos do Concilio Vaticano II.
Recordo que o jovem Correia da Cunha
ao terminar os seus estudos teológicos com apenas 22 anos, e não tendo a idade
canónica para ser ordenado, foi professor de latim no seminário, para os seminaristas
de vocação tardia.
Criei-me tendo o privilégio de lhe
acompanhar os passos e as imensas conversas informais na paróquia e nos muitos
ambientes sociais que frequentava. Faço coro às palavras que ouvi a muitos
homens de letras que lhe reconheciam a sua singular inteligência e perspicácia,
e uma força indomável na arte de bem-fazer bem, tendo enraizado muitas amizades
nos Lions Clube, no Grupo Amigos de Lisboa e Grémio Literário, que assiduamente
frequentava.
Na peça escultórica inaugurada no centenário do seu nascimento estão ali representados três símbolos: O corvo simbolizando a astúcia, a cura, a sabedoria, a fertilidade e esperança. A coluna símbolo da verticalidade, solidez, força e energia para sustentar a comunidade dos homens. O cigarro operador da memória retrospectiva, contemplativa herança dos motivos melancólicos do fumo, seu fiel e inseparável turíbulo.
A este clérigo nunca lhe faltou a majestade da figura, a elegância das atitudes e dos gestos. As suas improvisações nas práticas dominicais eram sempre eloquentes, cunhadas em bom estilo literário, cheias de imagens sóbrias e singelas. Como orador sedutor foi um mais perfeitos que já ouvi.
A NOVA JUVENTUDE
(Coro falado)
Introdução
Dirigente Jocista:
Soai trombetas!
Ressoai alto e claro!
Cantai a nossa festa!
Cantai a nossa
vitória,
A vitória de todos os
jocistas do mundo!
(ouve-se o toque
festivo de trombetas egípcias)
Dirigente:
- Trombetas, levai a
toda a parte,
A saudação de boas
vindas!
Levai a saudação
fraterna
aos jocistas do mundo
inteiro!
(cessam as trombetas)
Dirigente
- Eminências!
Excelências!
Os jovens
trabalhadores cristãos
Apóstolos e
conquistadores da classe operária
acatando a vossa
autoridade espiritual
que é a do próprio
Cristo Operário e Rei, pedem-vos
licença para inaugurar
esta grandiosa manifestação
por uma oração e por
um cântico
- a oração Jocista e o
hino jocista –
Camaradas da Flandres
e da Valónia
Camaradas da Holanda,
da França, da Suíça,
Do Canadá, da Itália,
de Portugal e da Espanha
que a nossa oração
neste dia
suba até ao trono de
Deus!
Seja da; ante os
representantes da Igreja
numa oferta nova e
total
do nosso ser,
do nosso coração
ao operário Divino,
ao Chefe,
ao salvador de todos
os jovens operários,
ao verdadeiro fundador da JOC,
ao Deus de Paz e de
Amor
a Nosso Senhor Jesus
Cristo!
(a multidão reza em
coro rítmico a oração Jocista)
Dirigente
- E agora, camaradas,
Para que se saiba em
toda a parte
quanto vos orgulhais do vosso movimento
e quanto vos sentis
felizes
ao celebrar o seu
décimo aniversário
aqui a voz, cantai o
hino jocista!
Que ele acorde todos
os ecos
Deste stadium
da nossa capital,
do nosso país,
da terra inteira!
(a multidão canta em
coro o hino jocista)
Dirigente:
- Camaradas, nesta
hora solene
Em que nos achamos
reunidos
na Paz e na alegria,
Recordemos, antes de
tudo,
os milhões de moços
operários
para os quais ainda
não brilhou,
a encher-lhes o sol da
vida
o nosso Ideal.
Recordemos também
Qual era em nossa
terra,
antes de existir a JOC
a sorte dos
jovens trabalhadores.
Ignoraram todos eles
as nossas alegrias
espirituais.
Ninguém se compadecia
do seu abatimento
moral.
Estavam abandonados
sem defesa
A todas as sugestões
do mal,
A todos os rancores,
A todas as revoltas.
- Nós que fomos
salvos…
Coro jocista:
Salvemos os nossos
irmãos!
.