quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

PE. CORREIA DA CUNHA - J.O.C '' NOVA JUVENTUDE'' I












 A NOVA JUVENTUDE


No dia 25 de Julho do ano de 1935 teve lugar na cidade de Bruxelas o I Congresso dos «Jocistas», estando presentes cerca de cem mil membros desta organização católica. Fizeram-se representar neste evento países como França, Canadá, Espanha, Polónia, Inglaterra, Portugal…

Para solenizar esta magna assembleia jocista, Portugal representou um coro falado, idealizado e escrito pelo jovem seminarista Correia da Cunha, que irei aqui postar ao longo dos próximos meses.

A escrita constituiu sempre uma das grandes inclinações do jovem Correia da Cunha. Já no seminário concebia cadernos e práticas de redacção capazes de despertar nos colegas efectivos estímulos na arte de bem escrever.



Este coro falado – A NOVA JUVENTUDE – escrito por si, com apenas 17 anos, para apresentação nesse grande evento da JOC revela uma notável produção intelectual, mas de  grande simplicidade e genialidade.

Como sacerdote viria a revelar-se como um homem de grande amor à vida. Sempre viveu com um enorme afecto à leitura das grandes obras clássicas da literatura, da filosofia e da teologia. Usava a língua portuguesa de forma exemplar, como era próprio da sua competência linguística, comunicativa, discursiva e textual. Foi um notável poeta, teatrólogo, cronista e exímio tradutor dos rituais da liturgia em latim para a língua de Camões, segundo os preceitos do Concilio Vaticano II.



Recordo que o jovem Correia da Cunha ao terminar os seus estudos teológicos com apenas 22 anos, e não tendo a idade canónica para ser ordenado, foi professor de latim no seminário, para os seminaristas de vocação tardia.

Criei-me tendo o privilégio de lhe acompanhar os passos e as imensas conversas informais na paróquia e nos muitos ambientes sociais que frequentava. Faço coro às palavras que ouvi a muitos homens de letras que lhe reconheciam a sua singular inteligência e perspicácia, e uma força indomável na arte de bem-fazer bem, tendo enraizado muitas amizades nos Lions Clube, no Grupo Amigos de Lisboa e Grémio Literário, que assiduamente frequentava.




Na peça escultórica inaugurada no centenário do seu nascimento estão ali representados três símbolos: O corvo simbolizando a astúcia, a cura, a sabedoria, a fertilidade e esperança. A coluna símbolo da verticalidade, solidez, força e energia para sustentar a comunidade dos homens. O cigarro operador da memória retrospectiva, contemplativa herança dos motivos melancólicos do fumo, seu fiel e inseparável turíbulo.



A este clérigo nunca lhe faltou a majestade da figura, a elegância das atitudes e dos gestos. As suas improvisações nas práticas dominicais eram sempre eloquentes, cunhadas em bom estilo literário, cheias de imagens sóbrias e singelas. Como orador sedutor foi um mais perfeitos que já ouvi.








A NOVA JUVENTUDE

(Coro falado)

Introdução

Dirigente Jocista:

Soai trombetas! Ressoai alto e claro!
Cantai a nossa festa!
Cantai a nossa vitória,
A vitória de todos os jocistas do mundo!
(ouve-se o toque festivo de trombetas egípcias)

Dirigente:
- Trombetas, levai a toda a parte,
A saudação de boas vindas!
Levai a saudação fraterna
aos jocistas do mundo inteiro!
(cessam as trombetas)

Dirigente
- Eminências! Excelências!
Os jovens trabalhadores cristãos
Apóstolos e conquistadores da classe operária
acatando a vossa autoridade espiritual
que é a do próprio Cristo Operário e Rei, pedem-vos
licença para inaugurar esta grandiosa manifestação
por uma oração e por um cântico
- a oração Jocista e o hino jocista –
Camaradas da Flandres e da Valónia
Camaradas da Holanda, da França, da Suíça,
Do Canadá, da Itália, de Portugal e da Espanha
que a nossa oração neste dia
suba até ao trono de Deus!
Seja da; ante os representantes da Igreja
numa oferta nova e total
do nosso ser,
do nosso coração
ao operário Divino,
ao Chefe,
ao salvador de todos os jovens operários,
ao verdadeiro  fundador da JOC,
ao Deus de Paz e de Amor
a Nosso Senhor Jesus Cristo!
(a multidão reza em coro rítmico a oração Jocista)

Dirigente

- E agora, camaradas,
Para que se saiba em toda a parte
quanto  vos orgulhais do vosso movimento
e quanto vos sentis felizes
ao celebrar o seu décimo aniversário
aqui a voz, cantai o hino jocista!
Que ele acorde todos os ecos
Deste stadium
da nossa capital,
do nosso país,
da terra inteira!
(a multidão canta em coro o hino jocista)

Dirigente:

- Camaradas, nesta hora solene
Em que nos achamos reunidos
na Paz e na alegria,
Recordemos, antes de tudo,
os milhões de moços operários
para os quais ainda não brilhou,
a encher-lhes o sol da vida
o nosso Ideal.
Recordemos também
Qual era em nossa terra,
antes de existir a JOC
a sorte dos jovens  trabalhadores.
Ignoraram todos eles
as nossas alegrias espirituais.
Ninguém se compadecia
do seu abatimento moral.
Estavam abandonados sem defesa
A todas as sugestões do mal,
A todos os rancores,
A todas as revoltas.
- Nós que fomos salvos…

Coro jocista:

Salvemos os nossos irmãos!














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