domingo, 7 de janeiro de 2024

ALA DOS AMIGOS DO PADRE CORREIA DA CUNHA


amigos que já partiram...

IN MEMORIAM
AUSENDA RODRIGUES SOARES

1932-2023


Passa hoje um ano sobre o falecimento de AUSENDA RODRIGUES SOARES (1932-2023). Sempre apreciei as criaturas humildes, francas, sinceras, bondosas e imbuídos de energia contagiante. Eram estes os tributos desta benemérita paroquiana da Paróquia de São Vicente de Fora. Vivia para a sua Fé, família, paróquia e amigos.  Quero aqui exprimir a minha homenagem e a minha profunda e eterna gratidão a esta grande heroína. Soube há poucos dias,em conversa fraterna com o Vitor, que tinha falecido com as mãos no rosto do seu amado filho. Jamais se esquecerá aquele dia 7 de Janeiro de 2023, data da comemoração do 66º aniversário do seu filho. Morreu como viveu: Lembrando uma verdadeira Pietá, permitindo o momento do abraço sofrido entre Mãe e filho. Não têm mérito algum, estas singelas palavras, de alguém que deseja debruar uma homenagem póstuma, a uma verdadeira cristã que não media sacrifícios para cumprir a sua heroica missão. Era amada e respeitada por toda a comunidade, pela sua vida sempre pautada dentro dos princípios do amor a Deus e ao próximo. Foi filha, esposa, mãe e avó exemplar que deixa um rastro luminosos para todos que queiram seguir os seus passos que sempre foram de tornar mais felizes os seus semelhantes. Conhecia a Srª D. Ausenda Soares, há mais de cinquenta anos, cujo o espírito, logo percebi, era de uma enorme generosidade. Frequentava diariamente a paróquia participando na eucaristia vespertina.  Recordo com infinita saudade a forma carinhosa com que sempre me tratou, assim como o seu extremoso esposo Sr. António Soares com aquela fisionomia de discrição, bondade e tranquilidade. Nesta hora, cabe-me definir e conceituar a enorme   dedicação com que levava a cabo a tarefa de purificar todas as alvas, amitos, toalhas e artefactos utilizados na celebração da eucaristia. Era um trabalho divinal. Como referia o Padre Correia da Cunha: - Era difícil encontrar pessoa que manifestasse maior afecto e zelo à sua paróquia que AUSENDA SOARES. A sua vida foi realmente de uma entrega total, sempre encostada na simplicidade das suas atitudes, agindo em prol do bem-estar do seu clérigo, tendo cuidado da sua roupa e indumentárias durante décadas. Era de uma rara perfeição e cuidada destreza essa sua tarefa, que muito lhe devia a paróquia e o seu pastor, mas que ela procurava esconder nas sombras da sua modéstia, toda a grandeza do seu espírito superior. A sua vida física acabou, mas continua ainda mais viva espiritualmente do que nunca. Foi a repousar na Glória de Deus. Hoje junto do Pai continuará a interceder por todos nós que não queremos nem podemos esquecer a sua memória. São Vicente guarda-a em seu coração. Deixou a todos muitas saudades. Não posso deixar de publicar as doces palavras de um poema da autoria de Miguel Torga que seu filho Vítor Soares lhe dedica neste primeiro aniversário da sua morte.

 Mãe:

Que desgraça na vida aconteceu,

Que ficaste insensível e gelada?

Que todo o teu perfil se endureceu,

Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa

Cansada de palavras e ternura,

Assim, tu me pareces no teu leito.

Presença cinzelada em pedra dura,

Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti – não me respondes.

Beijo-te as mãos e o rosto – sinto frio.

Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes

Por detrás do terror deste vazio.

Mãe

Abre os olhos ao menos, diz que sim!

Diz que me vês ainda que me queres.

Que nem a morte te afastou de mim!


domingo, 15 de maio de 2022

PE. CORREIA DA CUNHA – O RAPTO DA NOIVA

 





O CASAMENTO NÃO SE REALIZOU…



Havia na Rua de São Vicente um estabelecimento que muita gente não enxergava.
Não o viam pela aquela imensa agitação de sombras de vultos que o frequentavam e vibravam de ímpetos incoercíveis. Uma discreta placa, na ombreira da porta do prédio, anunciava uma ervanária, no 2º andar, para além da comercialização de ervas medicinais, constituía a justificação para outras actividades de caracter esotérico.

O oficiante era um jovem com formação superior, que após ter sofrido um violento acidente rodoviário, ficou paraplégico, vivendo ali na companhia da sua mãe pessoa de idade já avançada. Sem locomoção, sentado na sua cadeira de rodas, iniciou-se por meio de muita leitura de literatura e estudo profundo nessas áreas, tornando-se um conhecedor dos segredos de todas as plantas e através delas possuidor de poderes para lidar com o sobrenatural. Há época, era comentado por muitas pessoas do bairro, que naquele estabelecimento havia um homem de grandes virtudes, detentor de dons de feiticeiro, curandeiro, médium, parapsicólogo, bruxo… No edifício a atmosfera era de misticismo e secretismo. 

Muita gente ali se deslocava para procurar a constante resolução dos seus problemas de saúde física, conflitos com a vizinhança, conflitos conjugais e até amorosos. O ervanário usava o seu autoproclamado dom que lhe rendia algum bom dinheiro, permitindo que vivesse ele e a mãe com bastante conforto. Havia nas imediações uma jovem donzela, bonita, elegante que levava uma vida austera de trabalho. Era tímida e muito reservada. Nunca se lhe conheceu namorado. Só era vista diariamente nos seus passos sempre apressados de casa para o trabalho e vice-versa. Era funcionária nas OGFE (Casão). Vivia um mundo à parte dos demais. Aos domingos frequentava a sua paróquia, onde assistia à missa e rezava concentrada na pureza da sua fé. Da história familiar não tive tempo de saber muito, apenas que se tratava de uma família humilde e que a jovem era muito apegada à sua mãe. Soube mais tarde que a sua mãe e tia frequentavam consultas na ervanária. A mãe da jovem carregava consigo um grande sofrimento e um doloroso sentimento de culpa por haver negligenciado que aquele ser humano, não se tivesse desagarrado de si (era uma pera pronta a morrer na pereira), pois o tempo corria velozmente e não via na filha qualquer sedução de buscar um caminho de Felicidade. O seu sonho de ser avó desvanecia-se, assim como os pensamentos deslumbrantes ruíam sem esperanças. Porque não levar a filha consigo a uma consulta com o fitoterapeuta, para que este a ajudasse a encontrar um novo universo e quem sabe um príncipe encantado?

Avançou na ideia. Num final de dia entrou no gabinete acompanhada da sua filha, quando a luz do sol produzia uma ilusão subtil e serena. Uma luz calma que confortava a alma dos que buscavam soluções para os seus problemas. Algo ali se passou ao fim de algumas consultas. A jovem revirou-se na cadeira onde estava sentada, recebendo uma convocação misteriosa. Estava enamorada daquele sujeito que precisava de cuidados e, acreditava que assim, seria amada com segurança e confiança, adaptando-se ao extremo, esquecendo-se de si mesma. Na mesma semana se transferiu da sua casa, para ficar junto do seu amado. Passados uns meses toda a documentação estava pronta para que se celebrasse o sacramento do matrimónio. Era uma servidora da mística, servindo aquilo que de mais belo havia no seu destino. A celebração do casamento teria de ser nas instalações da ervanária, devido ao facto de não poder haver possibilidade de deslocação por parte do noivo.

O padre Correia da Cunha, envergando a sua batina, à hora marcada ali chegou para a realização do sacramento, no domicílio. Acompanhava-o transportando a pasta contendo a sobrepeliz e a estola, assim como o livro de assentos de casamentos.

Por imperativo da lei, tratando-se de um acto publico, era obrigatório a abertura das portas, para todos os que quisessem assistir. Aquando da abertura das portas ocorre um sequestro relâmpago, protagonizado pelos familiares da noiva, raptando a e levando-a com eles aos prantos e gritos. Ainda hoje retenho na minha memória a imagem da sua tia alta, larga e farta de seios, aguardando o momento para retirar dali a sobrinha pela sua hercúlea força. Era uma cena imaginária. O casamento não se realizou e a jovem foi levada num automóvel com destino a Fátima. O noivo com toda a serenidade perante as circunstâncias assistidas, manifestava uma enorme segurança, alegria, felicidade e paz interior. Fazendo-me lembrar a expressão do grande escritor Napoleon Hill : ‘’Seja o que for que o demónio me traga, eu responderei com rectidão.’’ Também o padre Correia da Cunha não foi surpreendido, pois havia sido informado previamente para a eventualidade desta operação por parte dos familiares da noiva. Instalada numa unidade hoteleira no Santuário Mariano de Fátima a jovem durante mais de uma semana não comeu mais nada, nem nada mais bebeu…. Estava agressiva e nem no sono tinha tranquilidade. O seu corpo começava a apresentar debilidades. A situação de saúde manifestava sinais de perigo e descontrolo. A inocente jovem podia morrer, e quem assumiria a responsabilidade de não ter feito absolutamente nada pela sua vida? 

A dor e a angústia dos pais eram grandes, por verem a filha prisioneira naquela ervanária. A operação pensada para a salvarem do cativeiro não estava a correr bem. Alguém da família em um momento de lucidez, pediu silencio e afirmou: ‘Para alguém que já passou uns largos meses, por tanta coisa como ela, o melhor é respeitarmos a sua vontade’. No amanhecer do dia seguinte, seguindo este sábio conselho, regressou toda a família a Lisboa e entregaram a jovem ao seu noivo que a aguardava com toda a serenidade e coroa de felicidade. Ela nunca deixou de amar a sua família que visitava assiduamente, de gostar das suas colegas das OGFE, onde seguiu sempre trabalhando e dos conhecidos que continuava a cumprimentar respeitosamente. Mas não colocava nada acima da sua escolha de vida. Sempre acreditei na ilusão de sermos diferentes e quando não somos… Quando iniciei estudos sobre a obra do grande filosofo contemporâneo – Sri RAM – um dos pensadores que mais escreveu sobre Vida Interior, tomei consciência que a felicidade é Paz e Serenidade Humana. A pergunta é pertinente. Haverá vida interior em cada um de nós? Se houver também teremos diálogos interiores. Porque haverá em cada um de nós, a tendência para revolucionarmos o mundo exterior? Onde estará a nossa capacidade de responder aos nossos desequilíbrios emocionais…? Muitas vezes buscamos fora o que está dentro de nós! Nesta história haverá muitas coisas que nunca saberemos explicar, porque nunca a experimentamos. Seguindo o pensamento do filosofo: «O ser humano só tem uma qualidade que é a sua vida interior que deve estar em paz consigo próprio». Esta é a nossa marca humana e a imunidade da nossa consciência. Paz não é indolência. Vamos lá à história do ervanário. A vida da jovem, até ali, era o que tinham feito por ela. Ela não tinha Acção nem participação.

Naquele final de tarde, naquela cadeira, ela viu por si mesma, ouviu com os seus ouvidos e pensou com a sua cabeça… O que aquele homem viu era o seu padrão de mulher. Estava lucido e soube ler a sua vida interior, sabendo o que poderia acontecer. A sua essência e identidade ninguém lhe podia tirar. Ela seria a sua 'amante' e servidora. O comportamento da jovem foi humano: viu, gostou e quis, depois nas emoções deixou-se aprisionar. Ele não lhe roubou nada, apenas lhe servia rastros de paz e beleza e ela não desejava nada mais. Ela seria uma Deusa servindo a beleza. Era feliz em Liberdade, optando pelo amor de servir o belo, que lhe gerava segurança, simplicidade e profundeza de vida interior. Esta história ocorrida no Bairro de São Vicente de Fora, nos anos setenta, já vai bem longa, pelo que a terminarei afirmando: que quando temos uma palavra, uma ideia, um conceito e a percepção de uma experiência a nossa consciência nunca nos vai deixar perder das bases (valores, sabedoria e virtudes) e dificilmente podemos embarcar numa barca que nos pode levar pelos mares da eternidade. Mais tarde o casal realizou o seu sonho de casamento e pelas notícias que me chegavam foram muito felizes por muitos e longos anos. Ela veio ao mundo para deixar a sua marca de serviço e generosidade ao ser amado.









quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

PE. CORREIA DA CUNHA - NATAL 2021







GLÓRIA A DEUS NAS ALTURAS;  PAZ NA TERRA AOS HOMENS DE BOA VONTADE



Natal 2021! As divinais mensagens natalícias vão se espargindo pelo mundo das redes sociais, iluminando as almas obscurecidas pelo empecilho desta terrível pandemia, que teima em não nos deixar, provocando tanta desilusão e cansaço. As realidades das notícias só cavam incertezas nos dias que vão surgindo e falta de esperança no porvir.

Desde a minha infância estava acostumado a esperar a noite de Natal, no aconchego do lar  com a família toda reunida, entre cânticos religiosos natalícios, acreditando na bondade daquele menino pobre, nascido numa manjedoura em Belém. Em cada Natal também Ele nascia nos corações humanos. Nas torres das igrejas os sinos anunciavam o nascimento de Jesus, convidando o mundo cristão para participar na missa do galo, em louvor do Deus-Menino. Na minha paróquia de São Vicente de Fora, no final da celebração presidida pelo Padre Correia da Cunha, todos beijávamos o menino; o sonho tornava-se realidade. Muito felizes e alegres abraçávamo-nos fraternalmente. Ao som de melodias celestes aquele espaço decorado e iluminado pelas cintilantes luzinhas transformava-se num mundo de confraternização de beijos e abraços como numa atitude sentimental de solidariedade. Mais tarde, nos claustros do mosteiro era a festa da partilha dos doces tradicionais de natal (filhós, azevias, bolo-rei, sonhos, rabanadas, coscorões, broas...) acompanhados de chocolate quente. A comunidade paroquial confraternizava num amplexo solene, iluminando a almas de todos à volta do seu pastor. Todos acreditavamos na «Paz na Terra aos Homens de boa vontade». Como seria bom que o menino Jesus neste Natal repetisse no interior de cada ser humano a máxima da sua mensagem: '' Amai-vos uns aos outros...'' 

Em todas as noites de Natal há sempre a sublime riqueza dos nossos tempos de infância, onde não havia leis de confinamento... mas grandes abraços que envolviam as nossas almas na grandeza de uma pequena estrela. 

Uma vez mais a celebração do Natal de Jesus iluminará os anseios dos que têm fé. Nos nossos lares festivos e alegres, que ninguém se sinta só, com a reduzida presença de familiares e amigos. Em espírito estarão connosco e unidos nos mesmos sentimentos de fraternidade. O menino Jesus por certo abençoará as intenções verdadeiramente puras dos nossos desejos. Assim, unidos seremos mais fortes. Juntos venceremos esta pandemia. Que o Natal seja cheio de gratidão, saúde e alegria para todos. Os meus votos de Santo Natal para os amigos e familiares. 

UM SANTO NATAL!








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quinta-feira, 11 de novembro de 2021

PE. CORREIA DA CUNHA E OS MAGUSTOS

 


 




O SÃO MARTINHO...NÃO PODE FALTAR UM BOM MAGUSTO



São Martinho! Bela página cristã, recordando um salutar sentimento de partilha. No encontro com o mendigo, com a sua espada Martinho cortou o seu manto ao meio para o dividir com o pedinte. Desde esse momento, por esta época o tempo mantem-se soalheiro, designando-se verão de São Martinho.



Hoje este dia traz-me à memória os grandes magustos organizados pelo Padre Correia da Cunha, na paróquia de São Vicente de Fora, onde os sentimentos puros, aquelas singelas demostrações de fraternidade e aquelas sublimes provas de amizade congregavam toda a comunidade à volta da fogueira das castanhas.

Não faltavam as castanhas assadas, no forno da padaria do Senhor António Barata (1931-2021) que recentemente nos deixou. Aproveito para recordar este homem de uma postura e de um trato formidável. A sua preciosa colaboração nos magustos de São Martinho era de mestria e grande zelo pelas suas extraordinárias qualidades e virtudes. Sempre apreciei este homem franco, simples, amigo do trabalho e muito honesto. Era um ser humano verdadeiramente feliz porque é dotado dos melhores sentimentos cristãos. Nunca recusava um pedido do seu pároco e sempre manifestava a sua disponibilidade para colaborar na feitura do grandioso magusto da Paróquia. Eram uma larga quantidade de sacos de castanhas. Toda a família paroquial se reunia no pátio dos corvos, para degustar castanhas e regá-las com o vinho novo e jeropiga. Para o Padre Correia da Cunha esta tradição não podia deixar de se comemorar na sua paróquia, pois era também uma forma de homenagearmos os nossos antepassados…

Na época actual esquecemos de tudo o que somos para pretender sermos tudo o que jamais seremos… São Martinho apesar de ser quase indiferente dos contemporâneos, com as comunidades entregues a outras preocupações, haverá, ainda, por aí, quem se lembre de imitar as tradições herdadas deste clérigo. Provar a pinga no dia de São Martinho. Que saudade dos meus dezoito anos!



Hoje, olhando para aquela Igreja de São Vicente de Fora, apenas me traz recordações e saudades nos meus pensamentos retrospectivos que a fúria da actualidade não consegue afastar das minhas ideias.

São Martinho. Uma saudade a mais em meus sonhos para relembrar uma bela página cristã, assinalando uma efeméride na fogueira da minha fé.








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sexta-feira, 2 de abril de 2021

PE. CORREIA DA CUNHA – PASCHA NOSTRUM



A NOSSA PASCOA 
44º ANIVERSÁRIO
2 ABRIL 1977





Em tempo de tríduo pascal, não podia deixar de lembrar com saudade o Padre Correia da Cunha, no dia em que se retirou deste mundo. Foi precisamente há quarenta e quatro anos. (Nas. 26 de Setembro de 1917 e Faleceu 2 de Abril de 1977). Perpetuar a memória dos que pela sua inteligência, cultura foram úteis à comunidade é dever que se impõe.

Dar conhecimento aos presentes e aos vindouros das virtudes e acções que enobreceram os antepassados, para que lhes sirvam de ensinamentos e estímulo, representa benefício para os vivos e justiça para os que já abandonaram esta peregrinação terrena. Foi no dia 2 de Abril do ano de 1977, que o zeloso sacerdote, cujas as palavras de mestre durante anos se afirmaram nos púlpitos da marinhagem e dos vicentinos nos deixou. Ficaram muitos livros de Vida Espiritual.




Hoje, trago a publico um desses livros – PASCHA NOSTRUM – A NOSSA PÁSCOA. É este prestimoso trabalho, uma compendiosa obra que foca a Liturgia Pascal, na vida dos cristãos. Vem na hora própria como o Padre Correia da Cunha o escreve no prólogo: ’’. Nas tuas mãos deponho este livro. Não para o leres com espírito de curiosidade, mas para que, por ele, mais facilmente vivas o mistério central de toda a vida cristã – A PÁSCOA – Foi por isso que lhe dei o nome de PASCHA NOSTRUM.É uma das manifestações da vida da Igreja a que dela dimana como fonte primária e indispensável do verdadeiro espírito cristão: a liturgia. É triste e faz pena… Mas PASCHA MOSTRUM vai-te acompanhar durante estes dias…’’ 

Este livro da autoria do Padre Correia da Cunha foi escrito em linguagem despreocupada que não exclui a elegância da forma e pureza da língua, são conceitos informados por aquele sentido prático e realista que o caracterizaram sempre nos seus escritos litúrgicos, de que deixou imensa obra escrita. O Padre Correia da Cunha foi dos mais esclarecidos espíritos do seu tempo nesta área, considerado um grande latinista e cultor de humanidades. Este valioso livro que conservo em meu poder, representa incalculável valor. Escrito por um homem dotado de uma aguda inteligência e insaciável vontade de saber. Recordo que no cerimonial das suas exéquias ocorridas no Domingo de Ramos de 1977, o seu bom amigo Padre Moreira das Neves teve-o com cerimoniário de toda a celebração.

No espólio da Paróquia de São Vicente de Fora, devem estar sabe Deus, em que estado, imensa obra e manuscritos da autoria deste sacerdote, não seria difícil encontrar preciosidades que deveriam conhecer a luz do dia. A sua alma de rara delicadeza e fina sensibilidade, depurada nas suas persistentes maleitas, vibram nestas obras tão cheias de ternura e amizade.
















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terça-feira, 12 de janeiro de 2021

ALA DOS AMIGOS DE PE. CORREIA DA CUNHA

 



Os amigos que partiram...




IN MEMÓRIAM

ANTONIO FRANCISCO FIALHO PALMA

1936-2017



Veio do coração das vastas planícies do Alentejo, onde nasceu no dia 4 de Abril do ano de 1936, na bela vila da Vidigueira. Ali, foi baptizado com o nome de ANTÓNIO FRANCISCO FIALHO PALMA. 

Com apenas 16 anos começou a sua vida de lutas na grande cidade de Lisboa, como empregado de comércio, numa das mais requintadas e prestigiadas lojas de pronto a vestir que havia na baixa lisboeta. 

Sempre foi um excelente trabalhador e cumpridor dos seus deveres, encontrando naquele estabelecimento a sua realização profissional. No entanto, faltava-lhe algo mais. Foi no Patronato de Nuno Alvares Pereira, fundado pelo Monsenhor Francisco Esteves (1871-1959) no ano de 1905, onde eram acolhidos muitos jovens do bairro de Alfama e São Vicente, onde lhes proporcionava a prática desportiva, actividades teatrais, musicais, passeios culturais e religiosos, que o Fialho encontrou um forte espírito de camaradagem, que tanto o cativou. Foi nos finais dos anos cinquenta que este jovem pelo seu comportamento e sagacidade se integra na vida activa do Patronato de Nuno Alvares Pereira. 

É admirável a participação do Fialho naquela obra, com um temperamento obstinado, indomável e com forte energia do seu espirito, ali participava activa e diariamente, em todas as actividades desportivas, culturais e de lazer, após os seus afazeres profissionais. Foi durante muitos anos membro da direcção do Patronato, sediado nas Escolas Gerais. 

Com a chegada do Padre Correia da Cunha no ano de 1961, à Paróquia de São Vicente de Fora, trazendo uma lufada de renovação pastoral, o António Fialho sempre encontrou tempo para se envolver nessa nova dinâmica. O Padre Correia da Cunha sempre elogiou este jovem, pelas missões prestadas ao serviço da Comunidade Paroquial. Foi sempre muito afectuoso e leal para com o seu pároco adoptivo, pois à época o Fialho era residente na freguesia de Algés. 

O António Fialho conquistou na Paróquia de São Vicente de Fora grandes amizades, tornando-se numa figura inesquecível. Sempre que vinha à capital, nunca deixava de visitar o seu amigo Padre Correia da Cunha. 

No ano de 2015, em que se apresentou o livro da minha autoria: Correia da Cunha – Mestre de Vida, tive a necessidade de elaborar uma lista de nomes, de antigos membros da Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora, para os convidar a estarem presentes naquele nobre evento. Curiosamente, não houve um só, dos antigos alunos e membros do Patronato de Nuno Alvares Pereira, que não me referisse o nome do António Fialho, como grande discípulo daquele que o livro visava homenagear. 

Nos finais dos anos setenta regressou à terra que o viu nascer, mas nunca deixou de todos os anos, ali acolher as velhas amizades da Paróquia de São Vicente de Fora (amigos do Patronato) num almoço de confraternização com os sabores alentejanos. 

Com muita perseverança, desenvolveu acção relevante no Clube Vasco da Gama da Vidigueira, como director da modalidade do Andebol. Esta colectividade, em reconhecimento do seu profícuo trabalho, tem-lhe promovido grandes homenagens. Não querem deixar de recordar o Fialho Palma, pelo imenso amor e carinho que sempre dedicou á sua terra-natal e clube. 

Foi no dia 21 de Novembro de 2017, ano das celebrações do centenário do nascimento do Padre Correia da Cunha, que o António Francisco Fialho Palma, após doença prolongada, nos deixou. A falta que todos sentimos da sua franca amizade, incentiva-me a lavrar estas singelas palavras em sua memória. 

Dai-lhe Senhor, o eterno descanso e brilhe para ele o esplendor da Luz Eterna. 

Paz à sua grande alma. 












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sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

PE. CORREIA DA CUNHA - FADISTA CARLOS DO CARMO (1939-2021)

 






CARLOS DO CARMO (1939-2021) - E SUA MENINA E MOÇA


Não sei como começar a escrever de algo que aconteceu há mais de 50 anos, num dos pátios, dos amplos claustros do Mosteiro de São Vicente de Fora, na cidade de Lisboa.

O fadista Carlos do Carmo a convite do seu grande amigo Padre Correia da Cunha foi cantar a São Vicente de Fora, com toda a sublimidade do fado. Lembro que ele sorria de felicidade radiante, diante de uma enorme plateia completa. Um homem sozinho, acompanhado apenas de um guitarrista e um viola. Cantava primorosamente, pois a sua voz era toda sentimento.

Creio que muitos nunca esquecerão aquela tarde do ano de 1970, como refere o meu bom amigo Carlos Pissarra que muito contribui para a realização daquele maravilhoso evento. O António Carlos Pissarra ficou tão entusiasmado com o êxito obtido, que tentou convencer o Padre Correia da Cunha a transformar aqueles claustros, revestidos de azulejos, numa permanente sala de fados.

Foi brilhante a interpretação do genial fadista, com as melodias extraídas dos acordes daquela guitarra e viola. Conquistou a simpatia e efusivos aplausos dos vicentinos. As almas encheram-se de profundas emoções. No fadista Carlos do Carmo até o próprio silêncio tinha sonoridade.

Os fados interpretados pela voz do Carlos do Carmo eram sentidos pela alma. A arte musical não tem propriedade; é de quem a admira, a entende e a pratica com voluptuosidade dos amantes apaixonados. Era o caso do reverendo Padre Correia da Cunha, que sempre lutou para transformar a sua paróquia num verdadeiro Centro Cultural (a sua sonhada Associação para a música organística). Obviamente, dando primazia às actividades pastorais e ao culto.

Jamais poderemos esquecer a figura deste fadista e as interpretações das cantigas à sua cidade de Lisboa, como ainda hoje recordamos as belas cartas de amor que o Padre Correia da Cunha escrevia à cidade onde nas, cera. Nas nossas almas ficarão impressos pedaços de melodias poéticas, musicando o sentimento existente nos sonhos do nosso amor a esta cidade feiticeira: LISBOA MENINA E MOÇA...

Carlos do Carmo morreu. Soube-o através das Tv's neste primeiro dia do ano de 2011. O seu nome ficará gravado para sempre na história da canção nacional.

Por isso escrevo esta singela homenagem de muita admiração a este grande Homem de bondade e cavalheirismo. Lisboa nunca o esquecerá!







Sei da verdadeira amizade do Padre Correia da Cunha com a Dona Lucília do Carmo. Era plena e cimentada em grandes virtudes, desenvolvida em mútua nobreza de caracteres. Nesta foto : O Padre Correia da Cunha está numa tertúlia com amigos, no Restaurante típico O FAIA, que era proprietária a Senhora Dona Lucília do Carmo.




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quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

PE.CORREIA DA CUNHA - O NOVO ANO

 





DESPERTAR SEMPRE PARA UM NOVO AMANHECER...


Mais uma vez, estamos a chegar ao fim de um ano, que muito mudou as nossas vidas. Termina triste e sem grande festa! Perdemos quase dez meses em experimentações novas, que nos roubaram os belos sorrisos, ocultos por máscaras e os calorosos abraços, que nos fazem morrer de saudades. O Padre Correia da Cunha adorava multiplicar os abraços de felicitações pelos seus amigos. As nossas vidas tornaram-se misteriosas e distantes, de tão súbitas e imprevisíveis colhidas que nos confinaram, retirando-nos a felicidade que nos era devida. Muitas coisas findaram; muitas esperanças, sonhos e muitas vidas de amigos se extinguiram pelo maldito vírus…mas continuam vivas nos nossos corações. Foi com o Padre Correia da Cunha que apreendi, que enquanto os que partirem estiverem vivos no nosso coração, a morte não nunca poderá triunfar. Lembro também um celebre escritor, que escolheu para o epitáfio da sua sepultura a seguinte mensagem: Eu não estou aqui! Então onde estaria?

- Nos corações daqueles que o amaram e que não o querem deixar esquecer. Neste dia também o meu pensamento recorda com saudade o grande mestre Correia da Cunha.

Surgem os primeiros gestos optimistas com a vacinação, mas

ninguém é vitorioso diante de uma incógnita. Não nos falta a confiança e a esperança!

No limiar do fim do ano, sempre evocamos vários acontecimentos que não desejamos esquecer. Deste ano de 2020, só me resta o nascimento da minha amorosa neta Maria. Para além da pandemia foi um ano de desencanto, por falsas promessas e cansado de esperar por uma cirurgia, em hospitais confinados e profissionais centrados num único foco: A Covid. Factores diversos levaram-me a uma dobrada cirurgia e a duas semanas em cama de hospital. Algo que seria simples. Felizmente venci mais esta dolorosa etapa da minha vida.

No dia em que celebro mais um aniversário (31 DEZ), muitos dirão: Parabéns por mais um ano de vida, esquecendo-se eles que será menos um ano. Um pouco de tempo mais vivido é um pouco menos de tempo a viver. Cada ano que passa é mais um pedaço de vida consumido. Para mim o ano que finda é uma página lida e amarrotada. É passado!

É pois, motivo de jubilo no dia que surgirá um novo ano, recordar o glorioso passado da paróquia de São Vicente de Fora, onde aprendia a despertar sempre para um novo amanhecer, em cada novo ano que nascia… nas mensagem do pároco Correia da Cunha.

 

Um ano que finda não é mais do que o princípio de um ano novo.

Brevemente os relógios anunciarão o Ano Novo, haverá no olhar de cada um de nós um novo horizonte de sonhos e ilusões… A felicidade irá espalhar-se nesse dia em saudações de Bom Ano Novo. Não faltarão os brindes e palavras de optimismo, confiança e esperança.

Tão cheia de mistérios é a vida, que de imprevistas e maravilhadas surpresas da ciência, que espero confiadamente que este Novo Ano possa trazer-nos a alegria, que pela nossa resistência e sacrifício, bem merecemos. Como seria bom e reconfortante termos sabido esperar. Abramos confiadamente os braços a este NOVO ANO.

Neste fraterno espírito a todos envio um caloroso abraço de felicitações para o Novo Ano.

Feliz Ano Novo para todos os meus familiares e amigos.












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quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

PE. CORREIA DA CUNHA - NATAL

 







ACHAREIS O MENINO ENVOLTO EM

 PANOS E DEITADO NUMA 

MANJEDOURA. (São Lucas, 2-12)


As horas vão-se aproximando uma a uma à grande celebração do Natal. E em cada um de nós vão nascendo sonhos de transparência e luz. Embora vivamos em tempos, que são de desilusões e angústias, de uma já longa e cansativa trajectória desta furiosa pandemia. É na sucessão de momentos festivos que todos vamos alimentando a jubilosa esperança…

A natividade de Jesus simboliza a luz e a luz sempre deverá ser representada pela imagem de um recém-nascido, o aprendi com o Padre Correia da Cunha. O menino Jesus é o exemplo da humildade e da fraternidade, lição sublime tantas vezes desprezada pela humanidade. Na comunidade paroquial de São Vicente de Fora, o Padre Correia da Cunha lembrava que o Natal estava ligado profundamente aquele estábulo de Belém onde nasceu Jesus.

No vestíbulo da igreja era construído todos os anos, um grandioso presépio que simbolizava o nascimento do Salvador.


Natal! Na transfiguração das horas, os momentos passam e a gente vê o céu mais perto e a terra toda iluminada pelo presépio santificado, que simboliza o nascimento do Salvador. Natal! As chamas dos círios, junto daquele presépio, brilhavam com mais intensidade, iluminando as nossas almas e lembrando-nos que aquele menino vinha ao mundo, trazendo uma mensagem de solidariedade humana.




Nos longos sermões o Padre Correia da Cunha lembrava: muitos de nós, onde incluía os clérigos, fazemos do nome de Jesus, credenciais para a hipocrisia e egoísmo das nossas atitudes. Mas felizmente ainda existem por aí criaturas de alma límpida, que seguem os ensinamentos do menino, e que saberão esperar com fé e resignação, pelo dia feliz da concretização de seus desejos

O Natal é a festa da família! Este ano os lares estarão mais tristes pela presença reduzida de familiares. Nesta noite bem-aventurada fluirá um pensamento de união, dos que não estando presentes fisicamente, ali estarão espiritualmente. As estrelas cintilantes dependuradas no pinheirinho tradicional, simbolizarão os que já partiram devido a este maléfico Covid 19. As bolas coloridas brilhantes são o sinal de todos os que gostaríamos de estar connosco nesta noite mágica. Em local de destaque no lar estará o presépio iluminado, com a imagem daquele menino que trouxe como mensagem: a igualdade de sentimentos humanos.

Natal! Dia consagrado a Jesus.

Os nossos desejos e optimismos vão na ânsia de que a sabedoria da ciência, nos ofereça com triunfo aquilo que tanto ardentemente esperamos. No começo do fim, só nos resta a esperança; nas trevas só se espera a luz.

O Natal de Jesus deve ser motivo para gerar renovadas emoções, no irresistível aceno espiritual para os mandamentos do príncipe da Paz. Sejamos sinceros para com o menino que nasceu pobre num curral de Belém.













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terça-feira, 8 de dezembro de 2020

PE. CCORREIA DA CUNHA – IMACULADA CONCEIÇÃO

 





UM FERIADO DIFERENTE E ESPECIAL 


Quando eu era menino, neste dia celebrava-se a Imaculada Conceição, que era mãe de Jesus. Por isso, também se comemorava o dia da nossa mãe. Ainda hoje, para mim o dia da mãe é o dia 8 de dezembro. O segundo domingo de maio é o dia comercial da mãe.

Mãe: Palavra imaculada, que deve existir sempre em nossos corações. Palavra pura que significa tudo o que há de mais sublime para nós.

Hoje é dia, de recordarmos aquela semideusa que nos viu nascer, nos afagou, nos alimentou, nos beijou, nos guiou…a única que sempre nos perdoou e nunca nos julgou.

Há quem fique sem mãe no justo momento em que mais necessitava dela. Como foi o meu caso. Mas, no céu, brilhando na ponta de uma luminosa estrela, todas as mães que Deus chamou, têm o poder de reger os destinos de seus filhos.

Neste início do mês de dezembro pensamos na Mãe de Deus, mas também nas nossas mães. Recordo ainda que na paróquia de São Vicente de Fora, o Padre Correia da Cunha aproveitava para festejar também os filhos (fazia-o junto do altar de N. Senhora da Conceição), que nasceram do ventre das mães, pois tinham os olhos das mães, os gestos das mães, as atitudes das mães, as ilusões das mães…

Em todos os sentimentos humanos há sempre um espaço santificado, reservado a lembrar as nossas mães: a de Jesus e a nossa mãe.




Neste ano de 2020 em que pairam sobre nós nuvens muito escuras, trazidas pela pandemia do Covid19 em que vivemos, o meu pensamento vai para as minhas saudades da infância, em que aos pés do altar de Nossa Senhora da Conceição, com uma oração nos lábios agradecia à Mãe de Jesus a proteção que não esquecia de estender às nossas mães. Hoje rogo-lhe que faça o sol brilhar sobre estas sombras enigmáticas.
















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quarta-feira, 29 de julho de 2020

PE. CORREIA DA CUNHA - JOC «OS DOENTES» IV











MISSÃO DE VIDA: VOCAÇÃO PARA OS DOENTES


O Padre Correia da Cunha esteve à frente da Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora, de 1960 a 1977( durante dezassete anos). Ao assumir o governo da paróquia deparou-se com muitos problemas. A regência da paróquia estava entregue a «uma dúzia de beatas» que era «as donas daquilo tudo». Era uma freguesia morta e envolta numa trama de relações e ligações demasiado arcaicas. O jovem pároco vinha cheio de ideias inovadoras. Era um intelectual, um padre fiel mas pouco conformista. Para renovar a paróquia era necessário restituir-lhe gente nova e criar compromissos de empenho social. Vinha da Marinha de Guerra, onde exercia as funções de capelão no Hospital da Marinha. Pelo texto deste coro falado que hoje publico, o Padre Correia da Cunha desde de sempre teve uma predilecção pelos doentes, que considerava que o seu sofrimento era a grande força para o seu ministério. Os doentes eram um dos seus mundos.



Acompanhei o Padre Correia da Cunha em muitas visitas às casas dos seus paroquianos doentes. Hoje poderei testemunhar que aquelas visitas o enchiam de muita energia e felicidade. Nessas visitas sempre tratava os doentes pelos seus nomes próprios . Dedicava vários dias da semana para ir de casa em casa do bairro, onde houvesse doentes e pessoas em sofrimento, mesmo nos ambientes mais pobres. Recordo-o sentado junto do leito de cada doente, falando com todos eles com uma delicadeza paternal.

Na casa de cada doente, sempre havia outros elementos da família, que lhe exponham os graves problemas por que estavam a passar. A segurança social à época era uma miragem. Sempre deixava um envelope com dinheiro para as necessidades mais insistentes da família. Havia uma sincera atmosfera de caridade.

O Padre Correia da Cunha era duro para aqueles que dele se abeiravam, na tarefa da pedinchice e que faziam dessa arte uma profissão. Sofria muito por aqueles que na penumbra da sua casa passavam tantas dificuldades e até fome. Ele considerava que era nos espaços recatados que se tinha de viver a misericórdia e a compaixão, para a força da igreja.

Cada pessoa era importante para ele, e para cada um tinha uma palavra delicada e um gesto certo. Com ele aprendi: «que a mão esquerda não saiba o que faz a mão direita.» O seu ministério era ir de casa em casa para ver e sentir, as necessidades dos seus paroquianos, e contribuir para as solucionar, sem que fossem eles a procurarem a ajuda ou preencherem formulários. A pobreza não era para ser exposta ou o caixote do lixo dos ricos. Quantos lares... não eram apoiados pelo prior de São Vicente de Fora na  mais absoluta confidencialidade!





OS DOENTES

(Durante o desfile do cortejo que transporta os doentes nas macas e cadeiras de rodas em todo o «stadium», a multidão de pé, em silêncio faz a continência jocista!

Dirigente:

Honra a Vós, Irmãos doentes!

Vai para vós o nosso amor mais fervoroso.

Honra vos seja

A Vós, lutadores da primeira linha

A Vós que trabalhais na obscuridade

Das fundações.

Enquanto nós, os que gozamos saúde

Construímos a luz do sol e ao ar livre,

As torres altas do nosso edifício!

Coro Jocista:

Irmãos doentes.

Honra vos seja!

Dirigente:

É aos vossos sofrimentos

Tão nobremente aceites

Que nós devemos

O triunfo do nosso apostolado!

No silêncio das enfermarias

Na solidão de vossos quartos de doentes

A vossa fraqueza faz a nossa força!

Coro Jocista:

Irmãos muito amados, coragem!

Dirigente:

Quando vós sofreis mais

Ou quando as vossas dores se aquietam

Sempre Deus está convosco,

Sempre Deus vos abençoa;

E o que Deus quere

É sempre o melhor!

Coro jocista:

Bendito seja Deus!

Dirigente:

Não vos esqueçais:

Foi do sangue dos mártires

Que germinaram triunfantes

as primeiras legiões cristãs!

Não vos esqueçais:

Cristo pregado na cruz

Pela sua morte

deu-nos a Vida

Coro Jocista

Bendito seja Deus!

Dirigente:

Sobre a patena

Que o sacerdote levanta para o alto

em vosso nome,

bem junto à hóstia do sacrifício.

Vós pusestes o vosso dom,

O sacrifício que é o vosso 

- a doce aceitação do vosso sofrer

Isto que fazeis por nós,

Nunca o esqueceremos.

Multidão:

Nunca! Nunca!










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sábado, 30 de maio de 2020

PE. CORREIA DA CUNHA - JOC «OS DESEMPREGADOS» III











«É PRECISO READQUIRIR A 

CONFIANÇA!»






Este coro falado, da autoria do Padre Correia da Cunha foi escrito no ano de 1935. Mantém-se actual e poderia ser redigido hoje. Estamos a viver uma terrível época. O desemprego alastra em grande ritmo, colocando muitas famílias em situação de grave pobreza. O desemprego juvenil é um flagelo que afecta gravemente muitas famílias e sobretudo os sonhos e as aspirações dos jovens.

Naqueles tempos, toda a juventude pretendia apenas entrar na aprendizagem de uma profissão ou ofício, mas debatiam-se com uma herança carregada de negras nuvens e uma realidade muito negativa. Creio que naquela época o flagelo do desemprego seria mais insuportável, numa sociedade profundamente desigual. O desemprego arrastava sempre consigo a miséria e a fome. O Padre Correia da Cunha preocupou-se sempre com o progresso material de todos os seus paroquianos, sobretudo daqueles que carregavam na alma histórias recheadas de segredos de miséria e dor… A paróquia era o seu único abrigo, na busca do pão. 

Pelo que presenciei o sacerdote era muito sensível a este drama (desemprego) e procurava, com a necessária brevidade, conseguir um emprego. Era impreterível que o seu semelhante voltasse a adquirir a elevação moral dos seus princípios. Por graça até lhe chamavam o padre das cunhas. Uma carta de recomendação do Padre Correia da Cunha era a chave certa, para abrir as portas em muitas empresas. 

Neste tempo de epidemia em que nos debatemos, há muita gente mergulhada em trabalho árduo, num sublime sacrifício para que renasça a esperança e se encha este grande vazio que invadiu os nossos corações. 

O cenário de hoje, são perspectivas de sacrifícios, porque hoje há muita gente passando necessidades, vítimas da pandemia, sem compreenderem a adversidade dos seus destinos.

Todos estendemos os nossos braços, à semelhança daqueles jovens Jocistas, numa suplica para que chegue um mundo novo, com mais dignidade, solidariedade humana e justiça justa. 

A grande maioria de desempregados conduzem as suas esperanças debruçadas no optimismo do desejado emprego, vencendo pelo esforço natural do trabalho. O desemprego só pode levar à degradação e indignidade. 

É urgente e imprescindível readquirir a confiança! 





OS DESEMPREGADOS


1º Coro dos desempregados
- A nossa época é sombria!
Coro dos desempregados
- A nossa época é de miséria!
1º Coro dos desempregados
- Em todos os países da terra
Coro
- A miséria!
1º Coro dos desempregados
- Em cada lar
Coro
- A miséria!
1º Coro dos desempregados
- Em cada coração
Coro
- A miséria!
1º Coro dos desempregados
- Por toda a parte
Coro
- Falta o trabalho,
Falta o pão,
Falta a esperança,
Falta o amor!
Dirigente Jocista:
- Irmãos! Porque estão assim descaradas as vossas mãos?
   Porque estão vossos rostos, assim tão pálidos?
   Porque tendes vosso corpo assim tão emagrecido?
Coro Jocista:
- Porquê?
1º Coro dos desempregados
- É que andamos há muitas semanas a mendigar
Coro dos desempregados
- O dia inteiro!
1º Coro dos desempregados
- A bater até fazermos sangue nas mãos.
Coro dos desempregados
- O dia inteiro!
1º Coro dos desempregados
- Vagueamos sem rumo! E vem um dia atras de outro dia,
   Sempre mais triste e mais negro.
Coro dos desempregados
- E nós não somos mendigos!
1º Coro dos desempregados
- Apesar de nossos braços inertes e da nossa fome.
1º Coro dos desempregados
- Não somos mendigos, a pedir esmola!
Coro dos desempregados
-Somos os operários sem trabalho, somos desempregados!
1º Coro dos desempregados
-Os nossos braços
1º Coro dos desempregados
Querem trabalho!
1º Coro dos desempregados
- A nossa fome
Coro dos desempregados
- Quere pão!





Coro dos desempregados
- O nosso coração
Coro dos desempregados
- Quere uma esperança!
1º Coro dos desempregados
- A bandeira da miséria flutua. A bandeira da morte flutua sobre o mundo,
   Sombria como nuvem de tempestade, negra como a fome!  
    Nas ruas estreitas, nos becos imundos.
    Há multidões desesperadas, multidões desesperadas, multidões.
 Coro dos desempregados
- Irritados. Furiosas. Revoltadas. Ameaçadoras!
1º Coro dos desempregados
- Ouvi!
Coro dos desempregados
- Milhões de peitos gritam o seu ódio, o seu desejo de revolta
   e de sangue!
1º Coro dos desempregados
- Ouvi!
Coro dos desempregados
- Milhões de peito gritam o seu ódio, o seu desejo de revolta de sangue!
1º Coro dos desempregados
- Ouvi!
Coro dos desempregados
- Amanhã, sobre o mundo em sangue e fogo, ressoará o clamor imenso da vingança.
Dirigente Jocista:
- Escutai: Camaradas sem trabalho, coragem !
Coro Jocista
- Coragem irmãos!
Dirigente Jocista:
- Nós estamos construindo para vós um mundo novo!
Coro Jocista:
- Um mundo cristão!
Dirigente Jocista:
- Mocidade trabalhadora: das lutas entre irmãos nunca podem nascer a fartura e a paz.
   Nós trazemos connosco uma imensa esperança!
   Nós os mensageiros do amor divino, vimos trazer-vos a Lei de Cristo, o mandamento sublime.
Coro Jocista:
- Amai-vos uns aos outros
Multidão:
- Amai-vos uns aos outros
Dirigente Jocista:
- Escutai. Homens de todas as nações!
                 Homens de todas as classes!
Coro Jocista:
- Escutai!
Dirigente Jocista:
- É grande a miséria da mocidade sem trabalho, dessa juventude que, na
   Esperança caminha para a morte. Escutai!
Coro Jocista:
- Escutai! Voltemos a Cristo! Voltemos à sua Lei! Voltemos ao seu amor!
   Voltemos a Roma! Cidade da Verdade Eterna!
Dirigente Jocista:
- Voltemos à felicidade!
Dirigente Jocista:
- Nós! Nós! Nós! Nós a juventude! Nós a juventude nova! Nós a juventude operária cristã
   Com a nossa acção corajosa!
Dirigente Jocista:
- Estamos a construir!
Coro Jocista:
- O futuro!
Dirigente Jocista:
- Que o papa exige de nós!
Coro Jocista:
- O futuro!
Dirigente Jocista:
- Que a miséria do mundo reclama!
Coro Jocista:
- O futuro!
Dirigente Jocista:
- Que realizará promessas de paz verdadeira, de verdadeira Felicidade!
Coro Jocista:
- O futuro!
Dirigente Jocista:
- Em que a geral alegria virá do trabalho certo e do salário justo!
Coro Jocista:
- Com a nossa acção corajosa, vamos construindo o futuro que o Papa exige de nós!
Multidão:
- A nova ordem cristã!
Dirigente Jocista:
- Não com discursos! Não com palavras vazias de sentido! Não com o vão ressoar de cânticos!
Coro Jocista:
- Mas com a nossa acção enérgica, audaciosa, cheia de esperança,
   Firme, tenaz, obstinada até à vitória!
   Acção à qual damos sem contar o nosso dinheiro, o nosso tempo as nossas energias moças, a
   Nossa vida!
    Acção ao serviço de todos, a única acção!
Dirigente Jocista:
- Quem está connosco?
Multidão:
- Nós, Nós, Nós a juventude!
   Nós a juventude operária.
   Nós a juventude operária cristã
Dirigente Jocista:
- Jocista, escutai: Esta acção exige uma batalha!
Multidão:
- Aceitamos a batalha!
Dirigente Jocista:
- Essa batalha exige sacrifício
Multidão:
- Aceitamos o sofrimento!
Dirigente Jocista:
- Sofrimento que pode ir até à morte.
Multidão:
Fiéis até à morte! Fiéis! Fiéis!
Dirigente Jocista:
Mãos juntas, joelhos em terra! Rezemos!
Coro jocista
- Rezemos!




Dirigente Jocista:
- Deus de misericórdia e de amor, os moços desempregados, no mundo inteiro
   Erguem para Vós as mãos suplicantes, milhares de mãos prontas para o trabalho
   Trementes de impaciência, ávidas de construir um futuro melhor.
Multidão:
(de pé) Senhor dai-nos trabalho, trabalho!
Coro jocista
- Dai-nos trabalho Senhor!
Dirigente Jocista:
- E poderemos deixar contentes o repouso forçado, que nos consome as forças
   E nos mata de fome!
   Não consintais que o nosso ardor moço e forte se perca em vão.
   Não nos deixes morrer lentamente!
Multidão:
- Trabalho, Senhor, trabalho!
Coro jocista
- O mundo está nas nossas mãos!
Dirigente Jocista:
- Não consintais que se afunde na desordem! Não deixeis que a miséria alastre mais os seus estragos!
Multidão:
- Dai-nos o bem-estar pelo trabalho!















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