terça-feira, 3 de setembro de 2019

PE. CORREIA DA CUNHA – ACÇÃO CATÓLICA XVI














MOLDAR VONTADES…


O padre Correia da Cunha foi uma das pessoas que nasceu para ajudar os seus discípulos a viverem plenamente. A sua verdadeira missão era precisamente formar elites. A palavra disciplina tem a mesma raiz de discípulo. O bom discípulo é aquele que segue o bom mestre. Muitos dos jovens da paróquia de São Vicente de Fora, nos quais estava incluído, foram ajudados a olhar a vida mediante o processo de formação administrado por este ‘santo’ clérigo. 

Foi uma bênção divina termo-nos cruzado, relacionado e aprender sobre a sua orientação. Formou-nos nos mistérios da vida cristã e social. Lembro que em latim formatione significa dar forma, moldar…

Estávamos todos na idade de aprender. E todos tínhamos a profunda consciência que havia um tempo para tudo, um tempo para amar e um tempo para morrer como referia o poeta, um tempo para aprender e outro para ensinar, um tempo para ser educado e um tempo de instruir e ser instruído…

Pelo padre Correia da Cunha éramos incitados a não clamar os erros dos outros, pois devemos compreender que todos temos o direito de errar. A vida de cada um é uma luta de sentimentos; erramos, fracassamos, desanimamos, mas a jubilosa esperança quando escorada nos erros permite-nos sempre buscar as grandes virtudes entranhadas e herdadas dos bons mestres.

Muitas vezes ouvi ao Padre Correia da Cunha esta expressão: «Quanto mais profundas são as trevas mais valor damos à luz».

As suas celebrações penitenciais eram momentos de esgravatarmos todos os acontecimentos desagradáveis das nossas vidas e que obstruíam os caminhos que desde sempre nos destinaram à santidade.

O sacramento da reconciliação era sempre impregnado de renovação em cada um de nós, onde brotava a luz que iluminava o nosso pensamento de fé. O desejo de cada um era a busca de algo de mais elevado, mais espiritual.

A oração no final era a necessidade de vivermos a emoção que nos ajudava a trilhar os novos caminhos na companhia do príncipe da paz que é a vida, a luz e a verdade que nos liberta.





Texto da autoria do Padre Correia da Cunha




DEBILITAR O ADVERSÁRIO

Como em toda a parte onde há luta trata-se de debilitar o inimigo e fortificar a vontade. Para debilitar o inimigo evitarmos fazer o que o fortaleceria como o cuidado desmedido e prejudicial do próprio corpo, a comida excessiva e delicada, as bebidas excitantes e alcoólicas. Mas uma higiene física e moral séria favorece a pureza assim como uma conveniente mortificação e mesmo uma apropriada dose de exercícios musculares há tantos meios indirectos e remotos para triunfar do mal sem contudo prejudicar, fatigar e esgotar o corpo. São úteis também os entretenimento e a nobre paixão em pró de um ideal artístico ou científico. Nada há superior ao apóstolo de um ideal que o prende e sabe mostrar no serviço duma nobre causa, todas as suas energias.

Importa muito avivar o entusiasmo dos novos em favor do alto ideal da J.O.C. criando assim, segundo conselhos da psicologia derivativos honestos que neutralizem e mesmo tornem a violência das paixões. 

Mais próximo, embora negativo é a fuga das ocasiões livres, evitáveis portanto: não ler determinado jornal, não assistir a tal representação não fazer visita, não passar por tal rua, não proferir frases ou palavras indevidas afim de não avivar uma paixão talvez adormecida que nos levaria ao pecado, incorrendo uma pesada responsabilidade moral. É antes de se levantar uma paixão e de nos perturbar e quando a cabeça está calma que convém estimula-la a fazer esforços necessários. Insistamos nisto se for preciso.

FORTIFICAR A PRÓPRIA VONTADE

Embora a mortificação seja preventiva, e na luta contra as paixões requeira um esforço contra a vontade, contudo ajuda a formá-la e a temperá-la. Em momento de tentação é preciso resistir até vencer mas passada a tentação não há que descansar nos loiros obtidos ou lamentando a derrota que sofreu. É um momento para bem trabalhar fortificar a vontade com renúncias frequentes e progressivas. A vontade deve impor o seu comando obrigando os sentidos e todo o pequeno mundo inferior a obedecer-lhe.

Ajudemos e estimulemos a vontade dos novos mostrando-nos caminhos embora exigentes que evitam compromissos e imprudências e exijamos os esforços a vigilância e os sacrifícios ao seu alcance que mostrarão a verdade e a vontade de ordem e de pureza. Não-aceitação e no cumprimento dos seus deveres profissionais por motivos de consciência mortificando quando for possível o corpo, o coração e a vontade, o jocista há-de encontrar o melhor caminho para a perfeita virilidade e para restaurar o domínio da vontade. E neste caminho que a providencia lhes fornece os meios de se conservarem castos cristãos e mesmo santos.

A VONTADE DEVE IMPERAR

A vontade assim formada não capitular perante as exigências dos sentidos, antes comandará como rainha adquirindo o hábito de controlar os caprichos, apetites, cercear as suas exigências até chegar a dominar, ajudada pela graça os desejos impuros e as paixões lúbricas. Por reflexo instintivo acudir então conforme a lei contra a paixão aceitando as renúncias necessárias. Novamente nos encontraram com a necessidade da mortificação cujo papel é salvador. Se a não aceitarmos nem procuramos por si mesma, ao menos pelos frutos de vida que ela procura, pela ordem e liberdade que restaura no homem. Não há que julgar que a vitória seja sempre certa e breve, mas em graça implorada na oração que fecundará os seus esforços, o jovem encontrará sempre o triunfo apesar de tudo e assim ficará resolvido o problema, não esqueçamos que o trabalho do padre é precisamente para a formação da elite.

O ESTADO DE GRAÇA

Não haverá Acção Católica se as almas não estão habitualmente em estado de graça. É impossível! Embora venha em ultimo lugar, nada há mais importante na vida do jovem operário do que a graça de Deus. É a nossa grande força e o remédio mais eficaz para tudo, porque uma alma que possui a graça, possui o próprio Deus. 

Tudo deve ir de encontro ás fraquezas e debilidades dos jovens para os encorajar no caminho a trilhar que é por vezes tão árduo. Os jovens não o percamos de vista podem precisar de mais alguma coisa do que bons conselhos.



ORAÇÃO E EXERCÍCIOS DE PIEDADE

Escusado será insistir sobre a sua necessidade. Sem oração não há graça , sem a graça não há salvação. A oração é como que a atmosfera que a alma deve continuamente respirar.

Como sem ar não há vida, sem oração não pode haver vida cristã. A oração é a alavanca que Arquimedes tanto procurava e não encontrou mas que nós temos à nossa disposição.

Não devemos esquecer o duplo sentido da oração: 

- Oração-petição e oração colóquio-intimidade.

E assim, é mister entender o preceito de Jesus: «oportet secuper orare et non deficere».

Quem quer o fim, diz o velho adágio: aplica os meios, e para se ter uma vida intensa de oração é preciso aplicar os meios que são os sãos exercícios de piedade úteis e muitas vezes indispensáveis para adquirir-se espírito de oração. São necessários pois renovar frequentemente os momentos em que estejamos em contacto com Deus directo e imediato para não nos deixarmos arrastar pelo terreno visível. Devemos porém não deixar cair esses exercícios em mera formalidade pela rotina ou snobismo.
















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