quarta-feira, 1 de julho de 2009

PE. CORREIA DA CUNHA, AMOR A LISBOA

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COMO EU GOSTO DE LISBOA!




O Padre Correia da Cunha tinha um compromisso de amor com a cidade que o viu nascer. Esta segunda parte da sua conferência, realizada em 22 de Janeiro do ano de 1954, no Palácio da Mitra em Lisboa, é um testamento dessa sua relação espiritual e de uma enorme paixão pela MUI NOBRE E SEMPRE LEAL CIDADE DE LISBOA.

Evocar este texto do Padre José Correia da Cunha é tornar presente aqueles diálogos entre si e os seus discípulos, onde eram sempre exaltados os encantos sublimes desta nossa querida e amada Lisboa. Para o Padre Correia da Cunha, pela sua localização, São Vicente de Fora era e estava no seu coração…sempre afagado pela voz ‘’divinal’’ e harmoniosa da sua e nossa inesquecível Amália!


Com olhar de confiança no futuro e nesta foto que mostra a sua paróquia, a Junta de Freguesia de São Vicente de Fora terá de perpetuar um dia uma Homenagem Pública este seu grande servidor que foi o Padre Correia da Cunha.


Quero renovar no dia do aniversário de Amália Rodrigues (?), o compromisso em prosseguir convosco a missão de não esquecermos as memórias destas duas distinta e marcantes personalidades.









COMEMORAÇÃO VICENTINA DOS «AMIGOS DE LISBOA»



Conferência, na sede, pelo PADRE CORREIA DA CUNHA, no dia do Padroeiro da Cidade em 1954

II PARTE





Quanta vez, entrando a barra, eu não senti a graça do seu perfil, o calor do seu olhar, o encantamento da sua luz, a sedução da sua voz! É que Lisboa tem perfil de sereia, uma luz diáfana e quente uma voz fresca de rapariga.


Ainda há pouco, vindo de Nova Iorque, cidade do barulho e da enormidade, onde tudo nos esmaga e nos arranha (pois se até arranha-céus…), eu senti a deliciosa fascinação da nossa Lisboa.

Não será bonito, mas manda a verdade que se diga. A mim vieram-me as lágrimas aos olhos, quando às oito da manhã (Ela acordara cedo para nos saudar), Lisboa me sorriu e disse: - ‘’ Bem-vindo sejas, Amigo! ‘’… e a luz do seu olhar beijou meus olhos.

Não se julgue, porém, que isto se deu só comigo. Não! Todos os camaradas do Aviso Gonçalves Zarco viveram a mesma alegria. Se o não dizem, é só por acanhamentos…


Como eu gosto de Lisboa!


Quanta vez, fazendo a ronda dos bairros, eu não sinto mais orgulho dos meus pergaminhos de Lisboeta!
Gosto tanto de a ver de perto…
Airosa Menina e Moça, é sempre gentil e formosa, quer calce as tamanquinhas e, de canastra à cabeça, vá da Ribeira à Madragoa apregoando – ‘’ Viva da Costa’’ – quer se fique horas perdidas junto ás portas da Rua da Regueira ou do Largo da Adiça, como senhora comadre, contando histórias da carochinha.

É sempre bela Lisboa!

No Bairro Alto é fadista; em S. Vicente, fidalga; na velha Alfama é marinheira; na Graça e Arroios é garrida; em Alcântara e Xabregas, operária, no Castelo é Princesinha; na Madragoa, varina; nas Avenidas, donzela, na Estrela, Senhora-Dona; e, quando fora
de portas, tem rebitesas saloias.

Em toda a parte sorri; em todas as ruas canta; em todo o lado moureja (jeito que lhe ficou de pequena). E, quando, pela tardinha, desce o Chiado catita, Lisboa é ‘’Flor d’Altura’’ – ‘’vai formosa e não segura! …’’.

Se a figurinha delicada e airosa de Lisboa assim nos cativa, qual não será o nosso encantamento perante a beleza das suas lendas, tradições e história, dessas três irmãs Siamesas que tecem com todo o enlevo o manto auri fulgente desta Rainha de ontem, de hoje e de sempre?

Como eu gosto de Lisboa, da sua história, das suas tradições, das suas lendas, da sua alma, enfim, sobre a qual pairou sempre e paira ainda a bênção do Senhor!

Ou não será expressão da verdade a poesia do nosso saudoso Irmão, Noberto de Araújo, que nós trauteámos com altivo entusiasmo:

Lisboa nasceu,
Pertinho do Céu,
Toda embalada na Fé.
Lavou-se no Rio
- Ai, ai , ai Menina,
Foi baptizada na Sé!



É verdade, é sim, Senhores! Lisboa é obra da graça de Deus!

Em cada página da sua multissecular biografia, como em Livro de Horas, há iluminuras cristãs, registos de santos, perfis de torres e de igrejas, imagens de devoção e altares de ex-votos. Sempre e a cada passo se encontra o Crisma do Sinal da Cruz e em cada pedra a sigla do Cristianismo.

A Fé Cristã de Lisboa a manifestar-se através dos tempos, nas igrejas, nas procissões, nas devoções populares e nas solenidades litúrgicas, que belo tema para ser desenvolvido!...

Foi essa vida de Fé que a fez grande.

Há anos, falsos amigos quiseram tirar-lhe esse espírito cristão.
Mas, graças a Deus, se conseguiram dar-lhe os ares de Virgem Louca, não conseguiram, por mais que o intentassem, apagar-lhe a lâmpada da Fé que recebera no Baptismo.

Mas não falemos em coisas tristes.

E perdoem-me VV. Exªas. Se me demorei muito a falar-lhes do meu embevecimento perante esta cidade de magia. Decerto, terão razão para dizer, com Virgílio: ‘’Jam satis prata biberunt ‘’ E passemos adiante, pois V.V.Exas querem ouvir falar do Santo Padroeiro da Cidade, cujo é o festivo dia de hoje.



Texto de Padre José Correia da Cunha





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1 comentário:

  1. Anónimo7.7.09

    Obrigada pela visita ao meu blog e foi com muito carinho que usei aquele poema cuja autoria só poderia ser respeitada!

    Apesar de amar o meu Porto, apaixonei-me por Lisboa que neste momento detem o meu coração e obejcto do meu amor.

    beijinhos
    Papillon

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