quinta-feira, 11 de março de 2010

PE. CORREIA DA CUNHA E O ORGÃO IBÉRICO

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''A nossa igreja enche-nos os olhos... O nosso majestoso órgão eleva-nos a alma e extasia os nossos ouvidos. ''PCC





A igreja de São Vicente de Fora tem um monumental órgão, que se vê através do alto baldaquino, e que muito deslumbrava Padre Correia da Cunha. A bem da verdade deve ser dito que ele possuía um verdadeiro amor e uma encantadora atracção às harmonias desse artístico e precioso órgão ibérico.



Entre o fim do século XVII e meados do XIX, despontou na Europa uma sumptuosa colecção de órgãos de igreja que, até hoje, se distingue pelas dimensões monumentais, pela riqueza de ornamentos e por um som de nitidez incomparável.



De valor inestimável para a arte sacra e a música erudita, tendo sido uma das principais ferramentas de trabalho de muitos compositores, um desses órgãos é o da Igreja de São Vicente de Fora. Ao fundo do templo, e ao alto, assente sobre uma robusta e elegantíssima pianha em conchas de boa escultura doirada, e de exagerado entalhe recobertos de ouro, ostenta-se o famoso órgão de São Vicente de Fora, o mais belo de Lisboa e certamente da Península Ibérica. A construção deste magnifico órgão é do ano 1762, sete anos após o grande terramoto de Lisboa (que como sabemos provocou a queda da imensa cúpula da igreja filipina) e é da autoria do organeiro espanhol João Fontanes de Maqueixa, que , morreria em Mafra no ano 1770.





Este órgão ibérico é o maior de Portugal, obra do século XVIII, doação do Rei D. João V- o Magnânimo, segundo se crê.



‘’Ibérico é um órgão de características regionais relativas ao ideário estético da escola de organaria ibérica, cultivado em Portugal e Espanha desde o séc. XVI. Estes instrumentos possuem apenas um só manual (embora existam instrumentos com dois, mas são raros) que se encontra dividido em duas secções (tiples e baixos). O número de teclas é inferior ao dos órgãos modernos, cifrando-se muitas vezes em 45, 47 ou 54 notas. As trombetas dispostas na horizontal são a principal característica do órgão ibérico.’’


O órgão ibérico de São Vicente de Fora possui 2 manuais e 60 meios-registos, num total de 3.115 tubos. Tem interiormente três andares, e na sua beleza decorativa, avista-se todo o templo através do baldaquino rasgado, que desafoga o quadro de uma equilibrada majestade cénica.






Nenhum instrumento produz, sozinho, acordes tão ricos quanto os órgãos barrocos. O seu princípio de funcionamento é o de um instrumento de sopro, que no lugar do pulmão humano, recorre a foles que enviam o ar para dezenas de tubos que emitem o som. É como se fosse um conjunto de flautas gigantes, com até 10 metros de altura. O que distingue os modelos barrocos dos restantes, é que este permite escutar simultaneamente e com uma nitidez incrível um grande número de acordes. O seu mecanismo garante que o ar chega imediatamente aos tubos quando o teclado é accionado (processo que leva até meio segundo nos demais modelos – suficiente para a perda de limpidez do som). Estes órgãos também se diferenciam pela concentração de finíssimos tubos, de onde saem tons de um agudo extremo.
A partir de meados do século XVIII, o órgão entra num período de esquecimento devido à chegada do período clássico e que é, em grande medida, uma negação dos princípios estéticos do barroco. Com estes novos ventos, o órgão deixa de ter grande interesse enquanto instrumento solístico e praticamente deixa-se de compor repertório que tenha em vista a utilização plena das capacidades do órgão.














Padre Correia da Cunha muito lutou e se envolveu para que se procedesse ao restauro do seu grande tesouro, que era aquele órgão barroco. Lembro-me de no tempo de Padre Correia da Cunha se ter levado a efeito o restauro deste imponente órgão ibérico, pelo organeiro Sampayo, e de grandes reparações na sala dos foles.








Padre Correia da Cunha era um apaixonado pelo seu orgão barroco e promovia grandes concertos com organistas que vinham de toda a Europa para conhecerem este maravilhoso órgão.


Em 1994, no âmbito de LISBOA, capital europeia da cultura, o órgão voltou a sofrer um grande restauro por Claude e Christine Rainolter, de França, uma vez que se trata de um dos melhores exemplares da organaria portuguesa do século XVIII.






Fotos : cedidas por Robert Descombes
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3 comentários:

  1. Anónimo14.3.10

    Muito obrigado , Joao, por esta homenagem à este magnífico órgão , o mais extraordinário que éu conheço! fica para sempre na minha memória o som oceánico desta maravilha!!
    Robert Descombes

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  2. Anónimo14.3.10

    O orgão de São Vicente de Fora, é um dos mais valiosos da Europa. " É NOSSO " é de Portugal. É um orgulho para o país.
    Este sim! sublime!, o rei e mais belo dos instrumentos feito arte da mais alta cultura nacional.

    "SUBLIME" "DIVINAL" "GRANDIOSO" "BELO" "DOCE''

    António Fonseca

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  3. Para que conste:
    Faleceu hoje, dia 17 de Novembro do ano 2012 o organista titular da Sé Catedral de Lisboa e professor na Escola Superior de Musica.
    António Sibertin-Blanc nascido em Paris, tinha um especial interesse pela música ibérica. Assisti a muitos concertos seus no magnífico órgão da Igreja de São Vicente de Fora. Deixa uma longa obra pedagógica e produção musical que deveremos projectar numa confundível e imortal presença.
    RECEBEI, SENHOR, NA GLÓRIA DO VOSSO REINO O NOSSO IRMÃO!

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