sábado, 19 de março de 2011

PADRE CORREIA DA CUNHA E A PRIMAVERA

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“Deus planta o seu Reino.”


Ninguém como Padre Correia da Cunha percebia tão bem a natureza. A estação que mais lhe enchia o seu coração era a Primavera. Não era necessário calendário para ele sentir as carícias dos dias primaveris, porque o canto melodioso dos passarinhos e o perfume suave das flores lhe despertavam os seus apurados sentidos.


Costumava recordar os seus longos passeios primaveris pelos alegres parques do seminário dos Olivais, na companhia dos seus dilectos amigos seminaristas.



Foi do Padre Teodoro Marques que escutei o seguinte testemunho: “ Correia da Cunha todos inícios de primavera, no peitoril da janela do seu quarto, construía ninhos com algodão para que os passarinhos ali pusessem os seus ovos e criassem com toda a segurança as suas crias. Com ingénita espontaneidade acrescentava: Deus planta o seu Reino.”

Primavera! Para ele era a estação das flores dos sorrisos e dos passarinhos… A Primavera fazia desabrochar nos corações as mais doces ilusões e o cheiro dos aromas das coisas que renascem.
Quanta beleza e harmonia haviam nas árvores renascentes!






Quando era jovem Capelão da Marinha e vivia no Mosteiro de São Vicente de Fora, tornou-se num verdadeiro amante da canaricultora. Deleitava-se com o canto, beleza da plumagem e da aguçada inteligência destes animais.

Mais tarde e durante longos anos, Padre Correia da Cunha possuía nos claustros do majestoso Mosteiro de São Vicente de Fora dois bonitos corvos negros, Vicente e Valério, seus leais e inseparáveis companheiros.

Nas manhãs festivas e perfumadas, Padre Correia da Cunha acordava com a ânsia de contemplar e saudar os seus pássaros que tratava com delicado zelo e carinho, que considerava como belas criaturas da mãe natureza.

As tardes de Primavera, para Padre Correia da Cunha, tinham a serenidade das coisas misteriosas, que nasciam na transparência amena de um raio de sol! Eram nestas horas quentes do crepúsculo que a sua alma se inebriava no sublime esplendor da obra divina que os seus olhos sabiamente contemplavam. Padre Correia da Cunha era um jovem padre que ambicionava transformar o mundo pelo coração do Homem.

Sempre se interrogava como era possível a Graça de Deus o ter enchido com tantas riquezas, tendo ele um coração tão pecaminoso e não valer nada…mas em compensação o Senhor colocara no mundo tantas pequeninas coisas, que embriagavam a sua alma e que ele não se cansava em transmitir aos seus jovens por forma a saborearem e a viverem com toda a ventura, pois os conduziriam às ditosas esperanças…


Os dias de primavera para Padre Correia da Cunha eram bafejos divinos, que afagavam a sua vida e regavam a sua consciência para viver em compaixão com todos os homens, seus irmãos.

Mais tarde, já como Pároco de São Vicente de Fora costumava referir: A paróquia deve ser uma família onde todos devemos aproveitar a “primavera constante sempre florida” ao longo do ano para aí colhermos pouco a pouco, dia-a-dia, a força para o serviço desinteressado aos irmãos.
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