segunda-feira, 1 de outubro de 2012

PE CORREIA DA CUNHA E AS TASCAS

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« MÃO QUE AMPARA COPO,AMPARA AMIGO!»






O Padre Correia da Cunha conhecia como ninguém todas as tascas e tabernas da sua paróquia, assim como as do vizinho bairro de Alfama. Sentia-se atraído por aqueles espaços. Hoje reconheço que saborear e apreciar um bom copo de vinho era para ele apenas um pretexto.
As tascas eram fundamentalmente locais humanos, onde pese embora o cheiro do vinho e da vozearia, subsistia o convívio estreito dos homens do bairro nas horas vagas.
 O Padre Correia da Cunha tinha um dito que hoje aqui recordo:
 “ Mão que ampara copo, ampara amigo!”. Não havia um só paroquiano que não conhecesse este popular padre e para muitos não era de irem buscar as estâncias da sua igreja ou assistirem aos rituais canónicos por ele celebrados.
Pagar um copo de vinho pelas imensas tabernas do bairro era, na maioria das vezes, a forma de encontrar e fazer bons amigos: gente humilde, trabalhadora e de uma enorme generosidade, que ele tanto adorava saudar fraternalmente. Aproveitava sempre estes momentos para abordar e fazer catequese sobre os mais diversos temas espirituais e humanos. Era a forma que o Padre Correia da Cunha encontrava para encher as almas de tão virtuosas pessoas que ele considerava dotadas das maiores honras e plenitudes.
Assisti muitas vezes ao Padre Correia da Cunha pagar rodadas de vinho tinto, mas em alguma circunstância senti que essa sua atitude correspondesse a algum desejo ou necessidade de afirmação.
Era bonito observar aquele homem, envergando as suas vestes clericais, batina ou fato e cabeção, a saborear um copo de vinho acompanhado de um pastel de bacalhau que retirava dos expositores que existiam sobre as pedras de mármore dos balcões.






Naquele tempo, as enormes pipas de madeira ainda se encontravam majestosamente à vista de todos e o folclore interior do estabelecimento centrava-se no tasqueiro que soltava brados: “ Sai mais uns púcaros, para quem tem sede!”


O cheiro a vinho, o ambiente escuro e a presença de algum bêbado a perturbar o são e alegre convívio desta honrosa gente frequentadora destes espaços, eram para o Padre Correia da Cunha aspectos superficiais. Não subscrevia os ditames dos “envernizados” da época na reprovação da existência das seculares tabernas e tascas em Lisboa.






A razão destes estabelecimentos de comércio artesanal no coração dos bairros típicos de Lisboa era serem espaços para ocupação dos tempos livres de muitos cidadãos honestos e trabalhadores. Eram espaços frequentados por gente pobre. Boa gente! Possuidoras de bons princípios morais, por vezes superiores aos difamadores que afirmavam com ingénuo pudor que os homens que diariamente frequentam estes “maus ambientes” das tabernas e tascas eram seres desprezíveis. Mas foi por eles que Jesus Cristo veio… não deixava de recordar o Padre Correia da Cunha.



Lembro que o Padre Correia da Cunha era assíduo visitador do seu velho amigo António dos Santos, no seu cantinho em Alfama, perto do Chafariz de Dentro. António de Alfama era um antigo marinheiro – homem do povo – que cantava baladas maravilhosas que recordavam ao Padre Correia da Cunha o murmúrio do Mar.

Naquela taberna do Beco do Azinhal, com os parceiros das farras, ele sentia as muitas noites passadas no alto mar onde o seu coração de capelão da armada se deixava invadir pelo romantismo e poesia.       

Estes dois marinheiros bem sabiam o que é a nostalgia da Pátria, as recordações da terra e dos amigos…                                        

Como diria o Padre Correia da Cunha, nas tascas e tabernas sempre se encontra gente de todos os tipos e tipos de toda a gente e ali bem podia examinar os sentimentos dos seus irmãos em Cristo.                                                                

 O bom pastor é aquele que vai ao encontro das ovelhas. Não são as ovelhas que vêm ao encontro do pastor.








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3 comentários:

  1. Bem me lembro daquela tasca do Cantinho de Antonio, onde o P. Cunha me levava, e gostava de cantar uns dos queridos fados que ele tanto amava!!! são muitas e grandes saudades , João Paulo, bem sabes tu..saudades que não posso matar...Um grande abraço
    Robert

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  2. Bem me lembro daquela tasca do Cantinho de Antonio, onde o P.Cunha me levava, para saborearmos uns pasteis de bacalhau, e cantar uns daqueles fados dos que ele gostava tanto...Igreja de Santo Estevão..São muitas e grandes saudades, João Paulo, bem sabes tu...saudades que não chego a matar!!
    Um grande abraço!!
    Robert

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  3. Anónimo2.10.12

    Aprendi com ele a cultura das tascas e do fado e dos valores humanos sempre envolventes e sempre emergentes! Rui Aço

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