quarta-feira, 10 de abril de 2013

PE. CORREIA DA CUNHA E O REGRESSO DE D. PEDRO AO BRASIL









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“ O IMPERADOR D.PEDRO I, EM 1972, ERA A IMAGEM DO HERÓI LIBERTADOR DA NAÇÃO BRASILEIRA.”





Foi há precisamente quarenta e um anos, no dia 10 de Abril do ano de 1972, que os restos mortais do Rei D. Pedro IV, que se encontravam depositados no Panteão da Dinastia de Bragança, foram transladados para bordo do paquete «Funchal» que os transportaria para o Rio de Janeiro, capital imperial do Brasil.



Foi no Mosteiro de São Vicente de Fora, com os raios de sol envergonhados a despertarem sobre a bela cidade de Lisboa, que o Padre Correia da Cunha dava início às cerimónias religiosas no interior do Panteão Real, perante a esplêndida urna de pau-santo que se encontrava colocada sobre uma riquíssima essa, junto do altar principal, rodeada por quatro círios e vasos com flores, estando a mesma coberta por um sumptuoso pano de veludo roxo, bordado a ouro, com as armas imperiais brasileiras e o monograma do soberano «P», de Pedro e Portugal.

Câmara ardente no paquete Funchal




Nesta cerimónia privada estiveram presentes o Presidente do Conselho, Prof. Marcello Caetano, o Embaixador do Brasil, Prof. Gama e Silva, o Ministro da Defesa, General Sá Viana, o Ministro da Justiça, Prof. Almeida Costa, os membros da Comissão, constituída pelo Senhor Ministro da Marinha, Alm. Pereira Crespo, o Embaixador Dr. Manuel Homem de Mello, Almirante Sarmento Rodrigues, Prof. Lopes de Almeida, Dr. Jorge de Mello e ainda a princesa D. Teresa Maria de Orleães e Bragança, em representação da família imperial do Brasil.


Vitor Soares - Padre Correia da Cunha - João Paulo Dias


Terminada a cerimónia litúrgica de exéquias, presidida pelo Reverendo Padre Correia da Cunha, acolitado por dois jovens, deu-se início ao cortejo no interior do Mosteiro, tendo sido transportada a urna, aos ombros de soldados do Exército Português, para o exterior do majestoso templo, onde foram prestadas as devidas honras militares por uma força do Batalhão de Caçadores 5, com Bandeira (mandada bordar pela Rainha D. Maria II e por ela oferecida a esse Regimento) e Banda. Lembro que D. Pedro IV fora comandante honorário desta prestigiada unidade militar.






No exterior da monumental igreja de São Vicente de Fora e nas ruas vizinhas, muita gente se concentrou para num profundo silêncio prestarem as suas últimas homenagens a D. Pedro IV, «Rei-soldado», vigésimo oitavo Rei de Portugal e primeiro imperador do Brasil.



Depois de depositada num armão do Governo Militar de Lisboa, foi a urna levada em cortejo por uma escolta a cavalo da Guarda Nacional Republicana para o Cais de Santa Apolónia. A abrir o cortejo, estava o carro que transportava o Padre Correia da Cunha e os dois acólitos: Vítor Soares e João Paulo Dias.



Passados alguns minutos, o armão detinha-se ao princípio da rampa, expressamente construída para acesso ao tombadilho do navio Funchal. Oito fuzileiros das duas nacionalidades transportaram em seguida a urna para bordo. Simultaneamente dois navios, um brasileiro e outro português, deram uma salva de vinte e um tiros. A urna seria depositada em câmara ardente no salão nobre do paquete, devidamente ornamentado em ordem a poder corresponder à importante missão.


João Paulo Dias - transportando a CRUZ


Os cento e cinquenta anos de independência, que o Brasil comemorou em Setembro desse longínquo ano de 1972, não representaram uma separação da Mãe-pátria. Durante os séculos, os dois povos implantados nas margens do Atlântico foram caldeando destinos intensos e profundamente enraizados uns no outro. Era o que significava a entrega fraternal por Portugal ao Brasil dos restos mortais de D. Pedro IV de Portugal e I Imperador do Brasil. D. Pedro de Bragança regressou ao Brasil. Ele que soube ser rei de duas pátrias, não saiu, afinal da Pátria comum a portugueses e brasileiros.



No final da tarde, o Presidente da República embarcou no paquete Funchal que o levaria ao Brasil acompanhado da sua comitiva constituída pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dr. Rui Patrício, Secretário de Estado da Informação e Turismo, Dr. César Moreira Baptista; Embaixador para os assuntos da Comunidade Luso-Brasileira, Almirante Henrique Tenreiro; Almirante Ferreira de Almeida, General Andrade e Silva, General da Força Aérea Costa e Almeida; Secretário-Geral da Presidência da Republica, Dr. Luís Pereira Coutinho, oficiais da Casa Militar do Presidente da Republica; Comandante Guilherme Tomás, Coronel Soares da Cunha e Major Rui Pereira Coutinho, chefe de gabinete do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dr. Luís Navega chefe de gabinete do Secretário da Informação, Dr. Duarte Guedes Vaz chefe do protocolo de Estado, Dr. Hélder de Mendonça e Cunha, secretário do protocolo; Dr. Manuel Corte Real… a esposa e filha do Chefe de Estado e o Padre Correia da Cunha.




No final do dia, zarpou das águas do Tejo o transatlântico Funchal, o qual foi escoltado por uma esquadrilha de barcos de guerra portugueses e brasileiros.


Na capela instalada no salão nobre do navio, a urna contendo os restos mortais do imperador era objecto de guarda de honra permanente efectuada por marinheiros e oficiais de ambas as armadas. O Padre Correia da Cunha encarregava-se do serviço religioso a bordo durante a viagem.




Na manhã de 22 de Abril 1972, dia que rememora a chegada da esquadra de Pedro Alvares Cabral ao Brasil, o Presidente da Republica Português Almirante Américo Thomás, acompanhando os restos mortais de D. Pedro IV, chegava à baía de Guanabara no Rio de Janeiro. O Imperador pôde contar com uma manhã maravilhosa de sol radioso no regresso ao seu amado Brasil. A histórica viagem representava muito mais que um gesto de fraternidade para com um país tão intimamente ligado a Portugal, assumindo um transcendente significado nas relações luso-brasileiras.




Como sabemos, foi em Agosto de 1971, que o Presidente Emílio Medici solicitou ao Presidente de Portugal que passasse ao Brasil a guarda dos restos mortais do Imperador Pedro I, em São Paulo, berço da independência, no Monumento do Ipiranga, altar da Pátria Brasileira.




Para os portugueses ver partir o seu Rei não era motivo que o fizesse mobilizar, pois restava-lhe o grande consolo de que o coração real, intacto e bem guardado, permaneceria na cidade do Porto, na igreja da Lapa, por vontade de D. Pedro, manifestada em testamento, e que com emoção continuamos a zelar perpetuamente.




A peregrinação dos despojos de D. Pedro pelas capitais estatais do Brasil, durante cinco meses, teve uma enorme mobilização da sociedade brasileira, que transformara o primeiro imperador numa personagem histórica quase divina de uma elevada paixão que era recordada pelas suas palavras proclamadas no dia 7 de Setembro de 1822, nas margens do rio Ipiranga:


“ Independência ou Morte”




D. Pedro era o herói da independência, forte, inteligente, audacioso, impetuoso mas também sensível às necessidades do povo, daí ocupar no coração de cada brasileiro algo próximo do sagrado e ter merecido tão caloroso acolhimento no seu regresso à sua segunda Pátria.




Meses mais tarde, para o encerramento das comemorações do 150º Aniversário da Independência do Brasil, em Setembro, ocorreu a deslocação do Prof. Marcello Caetano, chefe do governo português ao país irmão, para assistir ao sesquicentenário da independência do Brasil. Tal acto constituiu um novo reforço dos laços que sempre uniram as duas Pátrias Lusíadas. Este evento foi realmente um marco elevado na Comunidade Luso Brasileira.





A terminar, uma pequena nota sobre o processo de exumação do corpo de D. Pedro IV, ocorrido no dia 24 de Março de 1972 no Panteão da Dinastia de Bragança no Mosteiro de São Vicente de Fora, que confirmou que havida sido sepultado com uniforme de general português, calçando botas de cavalaria e várias comendas portuguesas e estrangeiras. O corpo apresentava deficiente preservação pelo que fora envolvido em um pano branco bordado, oferta do Padre Correia da Cunha e colocado no interior da sua nova magnífica urna, com ferragens em prata cinzelada, tendo a tampa um crucifixo de prata e brasões das armas imperiais brasileiras e reais portuguesas. No seu antigo mausoléu, estão depositados ainda hoje, os três caixões originais (dois de madeira e um de chumbo) que durante cento e trinta e oito anos acolheram os despojos reais e registava:


D.O.M PETRUS IV PORTUGALIA ET ALGARBIORUM REX PRIMUS BRASILIAE IMPERATOR AC BRIGANTIAE DUX, JOAN VI  IMPERAT. AC REGIS FILIUS PATRIAE LIBERTATIS AD SERTOR E VINDEX DUM REG NUM IN FILIAM CARISSIMAM MARIAM II, SPONTE TRANS LATUM EJUS DOMINE REGERET OBIIT. MAXIMO. OMNIUM-LUSITA NORUM DIE XXIVSEPTEMBRO. NA. DOM MDCCCXXXIV AETATIS SUAE XXXVI


No mesmo ano, foi gravado na pedra do túmulo: “ Os restos mortais de D. Pedro IV, primeiro Imperador do Brasil, agora repousam no Monumento Ipiranga em São Paulo, por decisão histórica do Governo de Portugal – 10-IV-1972”























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1 comentário:

  1. Figura de suma importância histórica para ambos os países, regente tanto do Brasil como de Portugal - D. Pedro I, imperador do Brasil, e rei Pedro IV, de Portugal - estava sepultado ao lado dos demais membros da família real de Bragança, governantes de Portugal de 1641 a 1910, no Panteão da Dinastia de Bragança situado no Mosteiro de São Vicente de Fora na cidade de Lisboa. Sua remoção seria uma perda significativa para o património nacional português. O Brasil, por sua vez, argumentava que diferente dos demais povos americanos, que têm nos seus panteões seus respectivos libertadores e patriarcas, o país possuía um túmulo vazio na base do Monumento do Ipiranga.
    Em 13/8/1971 uma boa notícia, o presidente de Portugal, almirante Américo Thomaz, concordara em transladar e presentear o Brasil com os restos mortais do imperador. Aos portugueses falou sobre o sacrifício em pró de enriquecer e fortalecer os laços entre a comunidade luso-brasileira. “Assim repartidos entre Portugal e o Brasil os despojos de D.Pedro serão bem o símbolo de uma raça que, divida entre duas Pátrias, permanece, todavia, fiel à alma que lhe dá caráter no mundo e inspira pelos tempos afora os destinos lusíadas”, disse Américo Thomaz, deixando claro, que o coração não viria. Permaneceria na cidade do Porto, já que o próprio D.Pedro deixou-o, em testamento, à cidade.
    No dia anterior, o presidente Médici expressara, em rede nacional de TV e rádio sua emoção; “brasileiros, não posso esconder minha emoção. Fala por si mesmo este fato que nenhuma eloquência poderia superar: no ano em que celebramos o sesquicentenário da nossa Independência, regressará ao Brasil o corpo daquele que, em sete de Setembro, às margens do Ipiranga, com a bravura, o arroubo e a paixão que eram a marca de sua personalidade, proclamou livres estas terras.”

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