quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

PE. CORREIA DA CUNHA E O DIÁCONO MÁRTIR













“ SÃO VICENTE EM TUDO VENCEU. 

VENCEU NAS 

PALAVRAS, VENCEU NAS PENAS. 

VENCEU NA 

CONFISSÃO DA FÉ, VENCEU NA 

TRIBULAÇÃO, VENCEU 


NO FOGO, VENCEU NO MAR, 

FINALMENTE VENCEU 

ATORMENTADO, VENCEU MORTO.”


Santo Agostinho




O Padre Correia da Cunha era um lisboeta de gema, gostava de estudar e aprofundar todas as matérias sobre o padroeiro espiritual da sua ínclita cidade de Lisboa e da paróquia do seu coração…

Nascido em Huesca, bafejado pelo ar límpido dos Pirenéus, São Vicente não era um ser lendário, mas antes um jovem dinâmico que viveu a poucos séculos da morte de Jesus Cristo, ainda na dominação romana, na Península Ibérica. Uma realidade concreta!...


Mal sabia a província de Aragão que este Vicente iria honrar para sempre a nossa encantadora cidade de Lisboa assim como a paróquia de São Vicente, uma das primeiras desta mui nobre cidade.

O Santo Mártir, na busca da felicidade de vida, seguia com entusiasmo as lições de piedade, religião e letras humanas que o santo Bispo Valério lhe proporcionava e, de tal maneira progrediu, que muito cedo foi investido na Sagrada Ordem de Diácono, para pregação do Evangelho uma vez que o seu bispo não tinha facilidade em falar.

Naqueles tempos, quem envergasse as vestes diaconais não podia ser cobarde, tinha que estar preparado para o martírio. Tantas vezes ouvi ao Padre Correia da Cunha: “ o nosso padroeiro não fugia com o rabo à seringa”.

O imperador Diocleciano movia uma guerra de morte ao cristianismo. Daciano, governador das províncias de Saragoça e Valência, era de facto o homem indicado para a missão sanguinária, na Península. Era obcecado pelas grandezas que aspirava no Império Romano. Uma das suas missões era perseguir os cristãos, de acordo com os desejos de Roma.

Consta que Daciano, com boas palavras, persuadira o diácono Vicente a renegar a fé cristã e a prestar culto aos deuses do Império.


O Vicente, com aquele ânimo forte que sempre o dominava e com toda a convicção, afirmava:



“É crime renegar o culto ao único Deus Verdadeiro. Todos os teus esforços serão em vão, pois confessamos a nossa Fé no único Deus de que somos filhos e servidores. Em seu nome depresso as tuas ameaças e todos os mártires que sofrem por Ele até à morte, pois pela morte chegamos à vida imortal! ”


Foi no ano de 304 que o Diácono Vicente foi receber de Deus o prémio da sua coragem, depois de haver recebido na terra a extraordinária consolação de morrer com toda a honra e glória.




Recordo um testemunho que ainda hoje, não se perdeu da memória de muitos, sobre um acontecimento ocorrido no longínquo dia 22 de Janeiro de 1918, em que a Igreja de São Vicente de Fora se reabriu ao culto, no tempo do Presidente Sidónio Pais.

Nesse dia, Monsenhor Francisco Esteves de Jesus, prior que suportou durante alguns anos o peso da prisão e da demagogia estulta e insidiosa, alegrou-se e com ele, muitos católicos da paróquia. Feliz e radiante distribuía pequenas folhas com as estrofes do lindo 5º Hino do Peristephanon que canta São Vicente, que o exalta e até lhe pede numa prece ardente, com toda a sua alma, para que o mártir interceda junto do trono do Pai e de Jesus Cristo.

Prudêncio, seu autor, era um dos melhores poetas do Séc. IV – um poeta de sangue e com imaginação viva que só o seu espírito era capaz de dedilhar na sua lira poética:



Vincenti, adesto et  percipe
Voces precantum supplices,
Nostri reatus efficax
Orator ad thronum Patris.

Per te, per illum carcerem,
Honores augmentum tui,
Per vincla, flamas ungulas
Per carceralem stipitem:

Per fragmen illud testeum,
Quo parta crevit gloria,
Per quem treanentes posteri
Exosculantur lectulum

Miserere nostrarum precum,
Placatus ut Christus suis
Inclinet aurem prosperam
Noxas nec omnes imputet.

Si ritem solemnem diem
Veneramur ore, et pectore
Si sub tuarum gaudio
Vestigiorum sternunur;

Paulisper huc tu illabere
Christi favorem deferens,
Sensus gravati ut sentiant
Levamen indulgientir.

De facto, mais uma vez São Vicente triunfara naquela paróquia. Nos inícios dos anos sessenta, o Padre Correia da Cunha verteu em versos as primeiras estrofes do mesmo Quinto Hino, numa excelente tradução que passo a transcrever:




Vicente, Mártir Santo
Este dia é radioso.
Pois nele ganhaste a palma
De um martírio glorioso

Porque em tal dia venceste
O carrasco e o tirano,
Cristo te leva aos Céus,
Vitorioso e ufano

Hoje ao lado dos anjos
Tua veste resplandece,
Foi lavada no teu sangue,
Por isso bela aparece.

Levita da tribo sacra.
Ministro do Santo Altar.
És coluna da Igreja
Que ajudaste a triunfar.

Em vida triunfador,
Na morte vitorioso,
Não te deixaste dobrar
Pelo tirano orgulhoso

Ó Mártir, por tuas dores,
Escuta os devotos teus:
- Sê para nós pecadores
Advogado junto de Deus




Depois desta amostra de um tão lindo poema, recordo que o Padre Correia da Cunha, desde sempre, na majestosa igreja de São Vicente de Fora, consagrava uma profunda devoção a este diácono mártir. Festejava com um grande cerimonial litúrgico a São Vicente Mártir, dia 22 de Janeiro, que contava com uma enorme participação de paroquianos.


Nesse dia utilizava ricos paramentos vermelhos com 
bordados a prata e ouro. O altar-mor e o transepto enchiam-se sempre de ornamentos com ricos arbustos e verduras.


IMAGEM S.VICENTE - ALTAR MOR


A imagem do Santo, situada no baldaquino, do lado da epístola era ostentosamente embelezada com enormes ramos de cravos vermelhos muito vivos, que por certo o perfume das flores e a espiritualidade da celebração eram acolhidos no céu pelo Santo, como uma grande afirmação de Fé do Padre Correia da Cunha e da sua pobre comunidade.

Seja-me lícito recordar, em breves linhas, que quando era menino e caminhava pelos claustros do Mosteiro de São Vicente de Fora, lembro-me perfeitamente que o Padre Correia da Cunha possuía dois lindos corvos, baptizados com o nome de Vicente e Valério. Estes dois corvos andavam soltos e à vontade naqueles grandiosos espaços e eram sustentados e admirados pelo pobre prior.


Eram símbolos da memória da tradição. Conta-se que dois 

corvos acompanharam as relíquias do Santo, um à popa e

 outro à proa do navio que transportava as santas relíquias 

do Cabo de São Vicente no Algarve até Lisboa; relíquias, 

essas que ainda hoje continuam a ser veneradas pelo povo

 na Catedral de Lisboa.
























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1 comentário:

  1. La Asociación VIA VICENTIUS VALENTIAE , que presido , está recuperando un camino histórico desde Roda de Isábena hasta Valencia que rememora los pasos de San Vicente Mártir , cuando en el siglo IV fue apresado en Caesar Augusta junto al Obispo Valero por los soldados romanos enviados por el Cónsul Daciano y trasladado a Valencia para sufrir martirio ante la negativa a renunciar a su fe. Así la difusión del conocimiento de este hecho provocó en los siglos siguientes una corriente de peregrinaciones desde toda Europa hasta Valencia para visitar los restos del mártir , convirtiéndose este fenómeno en algo muy anterior a las peregrinaciones medievales a Santiago de Compostela.
    Todos los detalles del Camino de San Vicente Mártir, que discurre desde Roda de Isábena, hasta Traiguera, atravesando de Norte a Sur Aragón , y atravesando la provincia de Castellón y Valencia para enlazar con la antigua VIA AUGUSTA hasta llegar a Valencia en un camino de unos 750 km , y multitud de aspectos históricos y leyendas del santo pueden consultarse en las webs que la asociación ha creado en Internet: http://www.caminodesanvicentemartir.es y http://viavicentius.blogspot.com. En ellas, junto a la información práctica como mapas y perfiles de la ruta, el peregrino puede acceder a consejos para caminantes, un foro especializado y abundantes datos sobre la biografía de San Vicente Mártir y el arte o la arquitectura dedicados al Santo, además de consultar la Carta Vicentina y el Libro de Peregrinos, e incluso obtener la Credencial Vicentina. Asimismo realizamos reportajes ,conferencias, videos y artículos que pretenden difundir las excelencias de este camino . Se insiste particularmente en la idea de que este es un gran proyecto de recuperación histórica que queda al servicio de la sociedad con aspectos tan maravillosos como son las peregrinaciones ,el senderismo , el cicloturismo y la recuperación del tránsito por pueblos olvidados y de la misma Via Augusta como parte de su trayecto. Quedo a vuestra más absoluta disposición para aportar nuestro granito de arena en el conocimiento de nuestra historia . Un saludo afectuoso.
    Salvador Raga Navarro
    PRESIDENTE
    Asociación VIA VICENTIUS VALENTIAE – VIA ROMANA

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