sábado, 21 de maio de 2011

PE. CORREIA DA CUNHA, UM RETRATO (V)

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“A Liturgia é a vida da nossa vida”






Para além do segundo pilar, descrito no anterior post (retrato IV), que era sem dúvida a acção caritativa, Padre Correia da Cunha, reconhecido por muitos como um dos génios em Liturgia, havia sido cerimoniário da Sé Patriarcal nos anos quarenta, por justo e merecido mérito de competência. Por este seu passado, não poderia ficar indiferente perante a forma da celebração do culto.



A Liturgia era o seu terceiro pilar, pois Padre Correia da Cunha considerava fundamental a compressão e participação activa de todos nas celebrações litúrgicas. Tudo era efectuado com a maior dignidade e brio por forma aquecer o entusiasmo e envolver todos nestas grandes e generosas formas de louvar, alimentar e elevar os espíritos e corações.


Desde sempre Padre Correia da Cunha manifestava uma grande preocupação: a de dar a conhecer a Liturgia que a Igreja celebrava. Para ele só assim era possível compreender-se, nos anos pós conciliares, plenamente a Igreja. A liturgia era para o Padre Correia da Cunha a voz viva da tradição e a expressão da fé da Igreja, pois era sua profunda convicção que o Espírito Santo agia nas celebrações litúrgicas.



Levava muito a sério esta sua função de liturgista, não se cansava em explicar e mais, não hesitava em simplificar e adaptar, com a sua imensa capacidade e criatividade, os rituais. O importante era que cada um de nós pudesse assimilar mais facilmente estas suas catequeses, melhorando a qualidade da fé de forma a participarmos mais activamente nos cerimoniais litúrgicos.








Quero hoje aqui recordar a sua máxima sobre a Liturgia: “A Liturgia é a vida da nossa vida”. Daí a sua entrega total à renovação litúrgica ocorrida no Concílio Vaticano II, cuja finalidade era reapresentar, com maior força, a verdade que a Igreja proclamava.


Nenhuma geração possuía o monopólio da expressão da fé, mas cada geração era obrigada a receber aquilo que recebeu para, por sua vez transmiti-lo de um modo mais actualizado e compreensível.


Na celebração eucarística, lembro-me que Padre Correia da Cunha fazia questão de ter 12 meninos do coro, sempre que possível. As suas missões era previamente definidas para que o acto sagrado fosse bem compreendido e sentido e a todos tocasse pelo respeito do transcendente cenário que em comunhão íntima, com o celebrante, o ofereciam ao Sacerdote Supremo ali presente: Cristo Redentor.






Para o Padre Correia da Cunha o espaço da celebração deveria ter uma atmosfera de sagrado, que só era possível se correspondesse à verdadeira simplicidade que é a beleza.


Por isso, e por sua decisão foi colocado no centro do cruzeiro um simples altar coberto de uma toalha singela de linho branco e imaculada, permitindo assim uma máxima convivência com todos os participantes na Eucaristia e contribuindo para uma maior dignidade da celebração.


Quem não se lembra dos tristes espectáculos pela “pressão” que exercia no início das celebrações para que se ocupassem os lugares mais próximos do altar?

Eram inclusive convidadas as mães com crianças de colo, que para o Padre Correia da Cunha tinham a beleza simples, a pureza e a inocência, que as transformavam no amor visível do próprio Deus.

Suava a heresia e ficavam estupefactos os presentes quando ele, com toda a clareza e vitalidade, costumava afirmar: “o chichi das crianças era água benta.”











No tocante ao canto, Padre Correia da Cunha afirmava que Concílio Vaticano II abrira as portas para novas formas de arte musical e oração, no sentido de uma participação mais activa dos fiéis nas Celebrações Litúrgicas.

O canto religioso era introduzido na Igreja de acordo com os costumes de cada povo. Para Padre Correia da Cunha o canto era Paz, Ordem, Harmonia, sendo interpretado com excelência.

A Paróquia de São Vicente de Fora, desde os tempos áureos de Mons. Francisco Esteves tinha enorme tradição na música e no canto religioso.

O Padre Correia da Cunha, que era dotado de uma grande sensibilidade musical, não poderia deixar de acarinhar a regeneração do grupo coral.
Com a preciosa colaboração da sua protectora Olga Violante, directora do Coro Gulbenkian e fundadora de vários prestigiados grupos corais, contribuiu para um enorme desenvolvimento e dinamização do canto coral na Paróquia.

É digno reconhecer a nobre dávida desta maestrina, com toda a alma e coração, em prol do Coro da Paróquia de São Vicente de Fora.

Os membros deste Grupo Coral, alimentados por esta extraordinária experiência de Olga Violante, ganhavam a consciência da grande importância que exerciam no verdadeiro ministério litúrgico.












Nos anos de grande efervescência política no nosso país,  o Padre Correia da Cunha teve que suportar silenciosamente muitas ‘”humilhações”, como a entrada nas igrejas de música profana sem qualidade artística que expulsava a tradição da boa música.

Para ele tudo isto era um engano, que com plena consciência, assistia com enorme preocupação.

Recordo de o Padre Correia da Cunha ter confidenciado a um pequeno grupo de amigos mais próximos que terá ficado mais tranquilo depois de uma troca de palavras com o Sr. Cardeal Patriarca D. António Ribeiro, em São Vicente, onde este segundo com toda a sua habitual serenidade, dignidade e coragem lhe transmitiu: “A clarividência há-de regressar e toda a música que não tenha qualidade para bem servir a liturgia acabará por se extinguir ….. Como as modas…”


Contínua…





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