quarta-feira, 11 de julho de 2012

PE. CORREIA DA CUNHA E O ORGANISTA DILECTO

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“ Naquele órgão havia uma infinidade de melodias adormecidas, à espera que Michael Kearns as acordasse do seu sono…”






 

O Padre Correia da Cunha, dono de um imenso talento e de grande sensibilidade musical admirava e compreendia como ninguém o génio dos grandes artistas. Hoje iremos lembrar um dos seus dilectos organistas: MICHAEL KEARNS.

Nascido no Canadá, fez os primeiros estudos musicais no Conservatório Real de Toronto. Premiado com uma bolsa de estudos pelo Governo Francês, esteve seguidamente em Paris, durante quatro anos, a estudar análise musical com Nadia Doulangedr e cravo com Raphael Puyana.

Apaixonado pela música e instrumentos do século XVII, MICHAEL percorreu a Inglaterra, Bélgica, Holanda e Espanha para tocar órgãos e cravos antigos, aprofundando assim os seus conhecimentos sobre a música daquela época (interpretação e estilo).

Esteve em Portugal desde Outubro de 1968 como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian para investigar a Arte Barroca Portuguesa sob a direcção do Prof. Santiago Kastner.

MICHAEL deu concertos e recitais em várias cidades canadianas e europeias. No ano de 1967, tocou em St. Séverin de Paris a Oratória St. Joseph à Montreal, tendo também realizado concertos para a Société  Rudio – Canadá,  para a ORTF (Televisão Francesa) e para a nossa  Emissora Nacional. Em Setembro de 1968 acompanhou o violinista Yehudi Menuhin e a Orquestra Nacional do Mónaco sob a direcção de Igor Markevitic. 

O Padre Correia da Cunha para coroar as festividades em honra de São Vicente que se celebravam a 22 de Janeiro de cada ano, promovia em colaboração com a Camara Municipal de Lisboa a realização de um concerto de órgão na igreja do santo diácono. Convidava para o efeito os maiores organistas seus amigos.

Recordo hoje uma pequena história: O Padre Correia da Cunha ao tomar conhecimento da reconhecida impossibilidade da vinda do organista francês Francis Chapelet para o concerto agendado para o dia do Santo Padroeiro de Lisboa, teve de propor à última hora, ao Presidente da Camara, o nome do jovem MICHAEL KEARNS afiançando-lhe tratar-se de um dos mais conceituados e prestigiados organistas internacionais.



A Presidência da Camara Municipal de Lisboa atendeu à sua proposta e consentiu a alteração de última hora. Naquela noite a edilidade pôde oferecer aos seus munícipes, na grandiosa igreja do Santo Patrono uma realização artística do mais elevado nível. Recordo que esse concerto foi um grande acontecimento artístico não só pelo órgão ser considerado um dos melhores instrumentos daquela época áurea mas por terem sido executadas em primeira audição musical, vários manuscritos do setecentista Frei Conceição da Cidade do Porto.

Este jovem organista desde a primeira hora se deixou entusiasmar pelo órgão de São Vicente de Fora.

 MICHAEL KEARNS diariamente se deslocava à Igreja de São Vicente de Fora demostrando assim o extraordinário interesse e evidente devoção que possuía por aquele instrumento singular.


Afirmava o Padre Correia da Cunha que poucos como MICHAEL conheciam as possibilidades e recursos do nosso órgão ibérico. Os bons apreciadores de música adoravam escutar as suas execuções artísticas disfrutando também da excelente qualidade arquitectónica do templo renascentista.

  

O Padre Correia da Cunha era com orgulho que ouvia da parte de célebres organistas grandes elogios, ao talento e modéstia do organista e cravista MICHAEL KEARNS. Apesar de ser dotado de génio, não lhe era difícil criar amigos e conversar alegremente com a juventude da Comunidade Paroquial. Todos lhe tributávamos muita admiração pela sua enorme simpatia e cortesia.



Ao escrever este breve texto de Homenagem ao organista predilecto do Padre Correia da Cunha consigo recuar no tempo e lembrar os muitos e bons momentos musicais escutados durante a minha adolescência e juventude em São Vicente de Fora.



Parece hoje intangível a paixão que acendia na imensa juventude de São Vicente de Fora ao escutarmos em total silêncio os recitais de órgão, pelas mágicas mãos do genial amigo MICHAEL.



Gostaria de agradecer ao Padre Correia da Cunha e aos muitos organistas que nos guiaram na descoberta da mais bela música organistica que nos permitia experimentar a maravilha da pura beleza e nos elevava a um estado espiritual que invadia de alegria os nossos corações. Bem Hajam!



O Padre Correia da Cunha como brilhante clérigo, humanista e distinto pedagogo bem sabia que desde o momento da criação que o desejo mais profundo do nosso coração é ter a união perfeita com Deus.



Reconheço hoje que as suas longas prelecções sobre a temática da música erudita que teimosamente pretendia levar ao nosso mundo irreal era a metodologia para nos ajudar a crescer e a viver na Graça. Com essas experiencias ali vividas, ouvindo o esplendoroso órgão e as deslumbrantes orquestras, ainda hoje, compreendo bem que contribuíram para recuperar a nossa identidade como Filhos de Deus.











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