quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

PE. CORREIA DA CUNHA E O CARNAVAL












O CARNAVAL É TUDO O QUE SOMOS SEM QUERERMOS SER!





Findo o Carnaval ainda restavam amontoados de serpentinas e confetes espalhados pelo chão daqueles imensos claustros do Mosteiro de São Vicente de Fora, aguardando que fossem varridos pelos foliões preguiçosamente, depois de uma noite de farra bem vivida. Estávamos já em quarta-feira de cinzas.

O Carnaval na Paróquia de São Vicente de Fora era ali vivido com todo o esplendor e espírito alegre; era um penso rápido, era um analgésico para nos mostrarmos como somos escondidos por detrás de uma fantasia ou de uma máscara; assim, como a realização de macabras brincadeiras que só eram possíveis cobertas pelo estímulo carnavalesco. Conservo uma foto desse velho tempo, estando fantasiado de D.Quixote com ar de sonhador e conquistador, envolvido em uma armadura de aço, acompanhado do meu amigo Vítor Soares no papel do pacato e sério Sancho Pança.



João Paulo Dias  e Vítor Soares nos claustros



Existe um Carnaval na alma de cada um de nós, lamentavelmente para muito o carnaval é todos os dias…

Na Paróquia de São Vicente de Fora decoravam-se os salões de serpentinas e balões. Era nesses salões que o Padre Correia da Cunha, na qualidade de respeitável prior, pelas suas dedicadas atitudes recebia a admiração de todos os paroquianos, ali presentes. Era um prazer vê-lo cheio de vibrações abrir os bailes carnavalescos. Era Carnaval e com o Padre Correia da Cunha referia: «É Carnaval ninguém leva a mal!» Todos precisamos de dias sem julgamentos para fazer coisas, ao contrário do que é normalmente aceite e que raramente se diz.







Ninguém melhor que o Padre Correia da Cunha compreendia, que o Carnaval, para muitos falsos puritanos era um delito. Ele deixava-se atrair pela fúria do Carnaval, pois bem sabia que quando se apagava uma ilusão nascia uma nova esperança…. Sendo assim, o carnaval não era um pecado. Na verdade, era um bem da vida, dos que sabem vive-la. Era um espaço de sonho, de ilusão à disposição de todos aqueles que sabem conduzir os direitos da vida.

O Carnaval é a festa da mentira e da verdade: uns mentem mostrando a verdade, outros mostram a verdade mentindo.




Crianças fantasiadas nas escadarias da igreja



Neste Carnaval de 2018 resta-me recordar aqueles tempos de juventude endiabrada a que o Padre Correia da Cunha abria as portas dos claustros para ali se viverem todas as ilusões da juventude, nos grandes bailes de Carnaval. Estes dias de folia eram aguardados com grade entusiasmo. As músicas estridentes incendiavam aqueles espaços interrompendo aquele triste silêncio. Eram dias libertinos que a gente não se esquece. Não sei dizer se o Carnaval é bem ou mal, mas servia para desabafar os nossos sentimentos que os preconceitos sociais entravavam. O Carnaval fazia parte da nossa vida, sendo um império efémero fazia-nos esquecer as fúrias fatigantes da vida. 



Claustros do Mosteiro



O Carnaval era uma interrupção na serenidade quotidiana das nossas vidas para representarmos dentro da vida real uma vocação que não se realizou, ou um ideal que não se conseguiu atingir. Carnaval é criar um período de fantasia, uma descompressão… pois são apenas 3 dias.

Tudo acabava naquela noite de terça-feira, nascendo em cada um dos folgazões uma nova visão: de penitência e noção de uma nova intimidade de oração.

Novamente teríamos de pensar na realidade da vida!

























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