quinta-feira, 5 de abril de 2012

PE. CORREIA DA CUNHA E SUA MAJESTADE EL REI D. MIGUEL

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“SONO FINAL, NO SOLO PÁTRIO… BEM MERECIDO PELO HOMEM REI, COMO CRISTÃO E COMO PORTUGUÊS…”






A 5 de Abril de 1967, faz hoje precisamente quarenta e cinco anos, chegaram a Lisboa em aviões da Força Aérea Portuguesa, os restos mortais do Rei D. Miguel I e sua mulher, a Rainha Adelaide Sofia.
No ano de 1966, celebrou-se o 1º Centenário da morte de Sua Majestade El-Rei Senhor D. Miguel, ocorrida em Bronnbach (Alemanha), no ano 1866.

Um grupo de monárquicos, como apoio do Sr. D. Duarte Nuno de Bragança, intercedeu junto do governo português para recolher de volta os restos mortais deste monarca e esposa ao solo da Lusa Pátria. O pedido foi bem acolhido pelo Presidente do Conselho, que ordenou que as cerimónias dessa trasladação se revestissem de todas as honras de Estado.
No exílio D. Miguel falava do adorado Portugal e vivia permanentemente cercado das boas recordações da sua Pátria. Após o casamento com a princesa D. Adelaide de Loewenstein, D. Miguel sossegou na paz do seu lar, entregando-se à esposa e à educação dos filhos. Mas nunca perdeu o amor pela Pátria – Portugal. Era uma verdadeira paixão. Dizia muitas vezes que nunca mais lá voltaria, morrendo de um angustiante desgosto.

A Rainha Senhora Dona Adelaide aprendera a falar e a escrever português e acompanhava o Rei, seu marido, no vivo e sincero amor pelos portugueses e por Portugal que considerava a Sua Pátria.
Portugal também não o esqueceu, pois quando chegou a triste notícia da sua morte ao Reino, naquela manhã fria de 14 de Novembro, toda a imprensa fez eco da morte do Rei exilado. O Rei D. Luíz I decretou luto nacional por vinte dias.
Voltemos ao dia 5 de Abril de 1967. Foi na bela capela da Base Aérea de Alverca que se deu o reencontro das urnas com os despojos reais de D. Miguel e de Dona Adelaide. Os restos mortais de D. Miguel, oriundos da Baviera, e os da Rainha D. Adelaide, procedentes da Abadia Beneditina de Ryde (Ilha de Wight) e onde professara votos depois da morte do marido, encontravam-se finalmente em Luso território.
Naquele local sagrado, procedeu-se à imposição dos pavilhões reais, seguindo-se o cortejo fúnebre, com as devidas honras dos vários ramos das Forças Armadas Portuguesas.







Já no final da tarde desse dia, os despojos reais foram acolhidos no Templo Vicentino pelo Reverendo Padre Correia da Cunha que os encaminhou até ao estrado montado no transepto. As urnas reais foram colocadas sobre áureas essas, ladeadas de 4 enormes tocheiros dourados, dando-se início a uma pequena celebração litúrgica. A guarda de honra foi prestada por cadetes das várias escolas militares, cavaleiros da Ordem Soberana e Militar de Malta, a que D. Miguel pertencera, e cavaleiros da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém.

As cerimónias solenes, com missa de “Requiem” seriam reservadas para a manhã do dia seguinte, com a presença de Sua Eminência o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel II Cerejeira, numerosos cónegos e beneficiados da cúria patriarcal. O canto esteve entregue ao Grupo Coral Stella Vitae, tendo como acompanhamento a Orquestra da Emissora Nacional.

Todo o majestoso templo se encontrava decorado de panejamentos negros bordados a ouro e prata. No largo frontal da igreja, estavam formadas forças em traje de gala do exército, da armada e, em plano de destaque, a Banda da Marinha de Guerra.
Os convidados para as Solenes Cerimónias iam tomando os lugares que lhes eram indicados pelos serviços do protocolo do Estado.
No ano de 1967, era um jovem adolescente, mas recordo como se fosse hoje, que ao subir as escadarias da majestosa Igreja de São Vicente de Fora, o Sr. D. Duarte Nuno de Bragança e toda a família, foram aclamados efusivamente por um grupo de monárquicos com vivas, palmas e gritos de Viva o Rei! Viva o Rei! Viva o Rei! O que foi repetido pela multidão do povo em entusiásticas e prolongadas ovações.










Perto do meio-dia, chegou o Sr. Prof. Dr. Oliveira Salazar que foi recebido com uma aclamação: Viva o Rei! O Presidente do Conselho esboçou um suave sorriso, que penso ter sido revelador do seu mais íntimo pensamento: “Como gostaria de ser 1º Ministro de um Rei Absoluto.”
A encerrar o cortejo das mais relevantes figuras públicas do Estado, estava o Sr. Presidente da República, Almirante Américo de Deus Rodrigues Thomaz, ao qual foram prestadas as devidas honras militares pelas forças militares ali presentes.
Na foto podemos observar a recepção que o Padre Correia da Cunha prestou ao seu amigo Almirante, dos tempos da Armada, quando o mais alto magistrado da nação se dirigia para as cerimónias exequiais de Sua Majestade El-Rei D. Miguel de Bragança.
Na Marinha Portuguesa, o Padre Correia da Cunha exerceu as funções de capelão. Nesse dia era o anfitrião, na qualidade de Pároco da Paróquia de São Vicente de Fora e guardião do Panteão da Dinastia de Bragança.








Após a leitura do Evangelho, subiu ao púlpito o Padre jesuíta Dr. Domingos Maurício, que prestou uma sentida homenagem à memória de D. Miguel: - “No desterro imposto pelas contingências políticas obscureceu-se a lembrança das vossas benemerências nacionais…

 Surgiu, enfim, o momento redentor, a hora da reparação sincera, que vos reintegra no lugar que vos compete na tessitura histórica de Portugal.”







Terminada a missa, cantada em latim, o Sr. Cardeal Patriarca, dirigiu-se para o transepto, onde deu as absolvições finais.
Num pequeno cortejo encabeçado pelo Reverendo Padre Correia da Cunha, as urnas foram transportadas pelos claustros do mosteiro até ao Panteão da Dinastia de Bragança. Os sinos dobravam a finados e uma bateria de artilharia saudou Sua Majestade El-Rei D. Miguel de Bragança, com vinte e um tiros. Em dois túmulos vazios, no lado esquerdo do altar, obra do prestigiado Arqtº Raul Lino, os ataúdes foram tumulados, ficando ao lado do túmulo de D. Pedro IV, irmão com o qual D. Miguel andou desavindo em vida.




Curiosamente em Março de 1972, os restos mortais de D. Pedro IV, Rei de Portugal e 1º Imperador do Brasil, por decisão do Governo Português deixaram o Panteão da Dinastia de Bragança e foram repousar no Monumento do Ipiranga em São Paulo – Brasil.



A partida dos despojos mortais de D. Pedro IV desfalcou o Panteão Real de São Vicente de Fora, povoado de tantas memórias ligadas à enorme civilização lusíada, de que tanto nos orgulhamos. Mas uma coisa é certa, na sua nova morada ele seria único e insubstituível como o verdadeiro fundador da nacionalidade Brasileira.
Resta-nos o coração de  D.Pedro IV na invicta cidade do Porto, e na memória dos portugueses como símbolo de liberdade, patriotismo e coragem deste nobre povo.


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3 comentários:

  1. Solenes exéquias na Igreja de S. Vicente de Fora, em 1967, do regresso dos restos mortais do Rei D. Miguel e da sua esposa Rainha D. Adelaide Sofia. Eu estava lá! Por isso eu posso testemunhar que os gritos viva o rei ecoou até à Graça. Viva o Rei! Foi a resposta de um povo contra a ditadura.
    Acrescento que ao Sr. Duarte Nuno de Bragança não lhe foi permitido subir pelas escadarias principais de acesso à Igreja. O Senhor D. Duarte Nuno subiu pelas escadarias que dão acesso direto aos claustros.
    Na foto onde se vê os sarcófagos, identifico o José Melo e Faro e eu, Rogério Martins Simões, ao lado direito do saudoso Padre Cunha.
    Finalmente quero agradecer ao amigo João Paulo por me avivar memórias.

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  2. Em 2008, escrevi:

    Durante anos caminhei para o Mosteiro de São Vicente de Fora onde se encontram os restos mortais de quase todos os Reis da 4ª Dinastia, a de Bragança.
    Durante muitos anos tive o privilégio de explicar aos turistas a história daquela dinastia: a que sabia. Foi um tempo inesquecível, o que passei ali – os anos de 60 do século passado.
    Tantas vezes dei por mim naquele Panteão, só, sentado nos degraus do túmulo da Rainha Dona Amélia, contemplando os túmulos do Príncipe D. Luis Filipe e de D. Carlos I lamentando, e por vezes chorando, a sorte que lhe coube, quiçá por não estar de acordo com o Estado Novo.
    Tantas vezes lamentei que nem uma só flor fosse depositada em qualquer túmulo real. O único que recebia flores era o Príncipe D. Afonso – o “Arreda”, irmão de D. Carlos, filho de D. Luís I e as flores eram ali depositadas pelos Bombeiros Voluntários de Lisboa, pois o ARREDA teria sido bombeiro voluntário.
    Fico feliz por fazerem alguma justiça ao Rei Dom Carlos e a seu filho. Seria bonito que o povo de Lisboa se recordasse que ali repousam os restos mortais de Dom João IV e que no 1º de Dezembro depositassem flores em memória dos Restauradores”
    Para finalizar este breve comentário quero dizer que encontrei este site por acaso, se é que o acaso exista… Meu pai entregou-me hoje um cartão em bom estado de conservação que tem inscrito “ JUVENTUDES MONARCHICAS CONSERVADORAS – NÚCLEO REGIONAL DE LISBOA. Estranhamente fiquei a saber que o meu avô, António Antunes Simões, era o sócio 12711 daquela organização. Desconheço a razão que o levou a inscrever-se. Talvez por ser um exímio tocador de guitarra portuguesa a tal ponto que, segundo meu pai, terá sido um dos dois mestres do famoso Armandinho.
    Vou estudar este assunto e logo que possa colocarei post no meu blog.
    Nota: assisti e participei nas exéquias aquando da transladação dos restos mortais do Rei D. Miguel l para o panteão da Casa de Bragança e a uma enorme vaia do povo contra a ditadura que foi desde S. Vicente até à Graça. O povo gritou Viva o Rei!
    Cumprimentos para todos,
    Rogério Martins Simões

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  3. Anónimo23.10.14

    Se houve uma troca que Portugal fez com sucesso, essa, foi o receber condignamente os despojos reais de D. Miguel, devolvendo os de D. Pedro I Imperador do Brasil. Enquanto o primeiro, amava Portugal, o outro, traiu-o como o pior dos traidores.

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